Título: Planalto impede convocações
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - Numa sessão tumultuada da CPI dos Correios, o governo impediu ontem a aprovação da convocação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e do doleiro Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona, para depor. Também foi rejeitada a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Okamotto, que é contador pessoal do presidente Lula e antecedeu Delúbio Soares como tesoureiro do PT, além de ter sido o tesoureiro da primeira campanha do petista à Presidência, em 1989. Os integrantes da oposição na CPI queriam convocar Okamotto para que ele explicasse o pagamento do empréstimo de R$ 29,4 mil concedido pelo PT a Lula. O Palácio do Planalto se recusou a esclarecer a origem do dinheiro que quitou a dívida e, há cerca de duas semanas, Okamotto declarou ter se encarregado de pagar o débito.

Para brecar a convocação de Okamotto, o governo mobilizou todos os aliados na CPI dos Correios: foram 16 votos a 12. Dos governistas, apenas o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) votou contra o Planalto. "É molecagem dos abafadores", reagiu a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL).

A quebra do sigilo de Okamotto foi rejeitada por pequena margem de votos: 15 a 12. Na mesma votação, a CPI não aprovou a quebra do sigilo bancário e fiscal do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia, Zilmar Fernandes da Silveira. A derrubada do requerimento para a convocação de Meirelles foi por 16 votos a 11.

"O presidente Lula é o advogado dos corruptos neste governo", reclamou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). Ele disse que Meirelles deveria ir à CPI para explicar o motivo de o BC não ter identificado as movimentações nas contas do empresário Marcos Valério e não ter apurados supostas irregularidades no Banco Rural.

"Querem atingir e derrubar o presidente de qualquer jeito. Mas falta materialidade jurídica ", afirmou o deputado Maurício Rands (PT-SP). O governo também derrubou o pedido para que o ex-ministro Luiz Gushiken fosse convocado a depor dia 24. Os aliados conseguiram aprovar as convocação dos doleiros Haroldo Bicalho e Jader Kalid Antonio, suspeitos de enviar dinheiro ao exterior para Valério e que seriam ligados a tucanos.

A CPI aprovou a reconvocação do ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho e a convocação de Carlos Eduardo Fioravanti da Costa, ex-diretor comercial. Foi aprovada ainda a requisição da ata da reunião do Conselho Diretor da Telemar que avalizou a compra de ações da Gamecorp, de Fábio Luiz Lula da Silva, filho de Lula.