Título: Apuração de corrupção será beneficiada, diz promotor
Autor: Brás Henrique e Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A10

A delação premiada poderá propiciar um salto qualitativo nas informações sobre a corrupção que está sendo apurada pelo Congresso, Polícia Federal e Ministério Público. Essa é a opinião do promotor Carlos Cardoso, assessor do procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo. Para ele, "não se deve pensar duas vezes" sempre que algum criminoso oferecer informações relevantes que ajudem a desbaratar as redes de corrupção, em troca de algum benefício. A delação premiada é uma forma de retribuição do Estado aos criminosos que colaboram para o esclarecimento de delitos graves, sobretudo aqueles associados ao crime organizado. Segundo o promotor, essa retribuição pode ser a redução da pena do colaborador ou até a extinção dela.

Prevista nas leis brasileiras, a delação premiada já permitiu o desbaratamento de várias quadrilhas. O promotor cita o caso do ex-deputado Hildebrando Paschoal, que chefiava uma quadrilha de traficantes e de execuções desbaratada no Acre em 1999: "A delação premiada foi em grande parte responsável pelo fim da organização criminosa que ele liderava. Vieram de pessoas que estavam no centro da organização as informações que permitiram esclarecer os crimes do ex-deputado."

Cardoso também põe na lista de trocas bem sucedidas a solução de crimes atribuídos à organização criminosa PCC, de São Paulo: "Estamos recebendo informações de pessoas que estão dentro do grupo." O instituto jurídico da delação premiada surgiu nos Estados Unidos, cujo sistema legal tem mais abertura para barganhas entre o criminoso e o Estado. Foi bastante utilizada na Itália, nos anos 90, na Operação Mãos Limpas, que chegou a políticos e empresários envolvidos com a corrupção e a máfia italiana. "Sem a delação premiada, a Itália não teria tido o sucesso que teve nesta operação."