Título: Buratti: acordo para dizer o que sabe
Autor: Brás Henrique e Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A10

RIBEIRÃO PRETO - O advogado Rogério Tadeu Buratti, ex-secretário do ministro Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, promete revelar hoje tudo o que sabe sobre esquema de fraudes em licitações de lixo em prefeituras paulistas e mineiras. Após um dia preso, Buratti fechou um acordo com o Ministério Público e a Polícia Civil, ontem à noite, e deve formalizar o pedido de delação premiada - redução de um terço da pena, em troca de colaboração com a Justiça. Buratti foi indiciado anteontem no inquérito do lixo - conluio de empresas para fraudar licitações -, por formação de quadrilha e sonegação. No mesmo dia, foi preso por outro inquérito, no qual é acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, além de tentar destruir documentos sobre a compra de fazendas e duas empresas de ônibus no interior.

"Ele vai declarar, independentemente da delação premiada ou não", assegurou o promotor Aroldo Costa Filho, após duas horas de conversa com Buratti. "Acho que muita gente vai ficar em situação dificultosa."

O promotor não quis detalhar a conversa, mas informou que o caso tem vínculos políticos e atinge vários municípios. Ele explicou que o depoimento formal ficou para hoje porque todos estavam cansados.

O advogado de Buratti, Roberto Telhada, não concordou com a iniciativa do cliente, desistiu de acompanhá-lo no depoimento e não sabe se continuará a defendê-lo. "Buratti foi indiciado num inquérito em que não há prova contra ele e sua prisão temporária é altamente discutível", alegou. "Mas não posso interferir no juízo que ele fez de si próprio."

MEDO

Buratti decidiu contar o que sabe anteontem, após ser surpreendido com a decretação de sua prisão temporária, por cinco dias. Abatido, com medo de morrer - considera-se um "arquivo vivo" -, Buratti contou ao promotor que se sentia traído, mas falaria apenas do esquema do lixo, não sobre a renovação de contrato de loterias da Gtech com a Caixa Econômica Federal (CEF), que envolveria o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.

O caso Gtech/CEF é "esquema do governo", não dele, afirmou Buratti, que é acusado por diretores da multinacional de exigir propina renovar o contrato. Mesmo assim, adiantou que quer ser ouvido novamente pela CPI dos Bingos, o que deverá ocorrer no dia 30, em Brasília, durante acareação entre os envolvidos na denúncia.

"Ele disse que tem medo de morrer e, se falar tudo o que sabe, não adiantaria matá-lo. Mas, se não falar, ele é um arquivo vivo", relatou o promotor, sobre conversa informal que tiveram, na manhã de ontem. No final da tarde, Buratti retornou à Delegacia Seccional, onde foi detido anteontem, e teve nova conversa, desta vez com o delegado-seccional Benedito Antônio Valencise e promotores.

Buratti chegou abatido à delegacia, algemado e vestindo o uniforme amarelo de presidiário. Veio do Centro de Detenção Provisória (CDP), onde divide uma cela com outras três pessoas. Voltou ao CDP às 20h30.

GRAVAÇÃO

Buratti passou a ser uma pessoa visada desde 1994, quando saiu da prefeitura de Ribeirão. Ele era o homem forte de Palocci e caiu em desgraça ao gravar conversa com um empreiteiro do Rio, que sugeria uma esquema de corrupção. Propalou o feito e um integrante do PT furtou a fita da gaveta de seu gabinete, na prefeitura, num final de semana, e a divulgou.

Deixando a prefeitura, Buratti atuou na prefeitura de Matão, também comandada pelo PT na época, e em várias outras. Trabalhou também na Leão Ambiental, que faz serviços de coleta de lixo e varrição para prefeituras e foi acusado participar de esquema para vencer licitações públicas.