Título: Para Lula, direita manipula PSOL e PSTU
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A14

BRASÍLIA - O presidente Lula afirmou ontem, em conversa a portas fechadas, que os grupos políticos de ultra-esquerda, entre eles PSOL e PSTU, estão se deixando usar "pela direita" para fustigar seu governo. A avaliação foi feita em encontro com os presidentes do PT, Tarso Genro, do PC do B, Renato Rabelo, e o interino do PSB, Roberto Amaral. Os três deixaram claro, porém, que dão apoio a Lula agora, na crise, mas não têm compromisso para a eleição de 2006. O presidente não quis falar de reeleição, alegando que ainda é cedo. Lula ofereceu abertura nas discussões sobre política econômica, principal crítica dos aliados, prometendo reuniões com a equipe do Ministério da Fazenda. Ele aceitou até tratar mais detalhadamente do orçamento e de outras políticas de governo. "Queremos mais espaço e precisamos ter mais informações até para poder defender o governo", disse Amaral.

No encontro, Lula disse ainda que há exageros nas CPIs, que adversários estariam usando como palanque eleitoral. Aproveitou para desqualificar os organizadores da passeata de quarta-feira, contra o governo, e elogiar o movimento de terça-feira, a favor dele.

Ontem, a primeira passeata contra a corrupção no governo Lula feita pelas centrais sindicais em São Paulo reuniu cerca de 2,5 mil pessoas, metade do esperado pelos organizadores. Pelo menos 50 ônibus buscaram trabalhadores nas fábricas. A passeata foi da Avenida Paulista ao Teatro Municipal. Palavras de ordem nos carros de som - como 'Lula, você sabia, o Zé Dirceu é seu PC Faria', 'Lula, que traição, roubar do povo pra pagar o mensalão' ou 'esse governo é um mistério, quem governa é o Marcos Valério' - não empolgaram.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, aprovou a passeata. "É parte da mobilização para o grande ato contra a corrupção no governo marcado para 6 de setembro na Praça da Sé", explicou. "Acho que nos próximos dias não tem como não pedir o impeachment. As denúncias estão muito próximas de Lula." Ele ressalvou que ainda é "voz isolada na Força".

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno Bezerra, considerou o pronunciamento de Lula na sexta o estopim das grandes manifestações.