Título: Crise em 5 países cancela cúpula do Grupo do Rio
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A14

BUENOS AIRES - As graves crises políticas em cinco países latino-americanos, entre os quais o Brasil, levaram o governo da Argentina a anunciar a suspensão da 19.ª Reunião de Cúpula do Grupo do Rio, que seria realizada dias 25 e 26 em Bariloche, na Patagônia. A decisão surpreendeu o Itamaraty, que preparava a ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem ter ainda a confirmação de sua participação pelo Palácio do Planalto. A decisão, entretanto, foi recebida com alívio na área internacional do governo. Fragilizado pelos escândalos de corrupção em seu governo e no PT, Lula seria exposto a um constrangimento se insistisse na sua programação de menos de 24 horas em Bariloche. Caso contrário, teria de arcar com o ônus de sua ausência em um encontro da região que pretendia liderar.

Nos últimos dias, tornou-se claro o desinteresse de alguns países, como a Colômbia, em mais um encontro com poucas perspectivas de resultados práticos. As crises políticas colocaram em dúvida a presença de Lula e dos presidentes Eduardo Rodríguez, da Bolívia (que se preparava para delicadas eleições presidenciais), e Alejandro Toledo, do Peru (que realizou mudanças ministeriais mesmo com os escândalos de corrupção). Os presidentes do Equador, Alfredo Palácio, e da Nicarágua, Enrique Bola¿os, tampouco confirmaram presença.

Diante desse cenário, a chancelaria argentina estimou que apenas 10 dos 19 chefes de Estado do Grupo do Rio estariam presentes, segundo fontes diplomáticas. O encontro seria de extremo interesse do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, que está mergulhado na campanha eleitoral em seu país e teria a chance de posar como estadista. Porém, começaria esvaziado e tenderia a abalar sua reputação.

A alternativa foi combinar a decisão de suspender o encontro com o país que presidiu o Grupo do Rio em 2004, o Brasil, e com o que o conduzirá em 2006, a Guiana.