Título: Aeroportos com jeitão de shopping
Autor: Juliana Bianchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2005, Metrópole, p. C8

No dia 11, a supervisora técnica Mônica Amaral chegou ao Aeroporto Internacional Franco Montoro, em Cumbica, Guarulhos, com o namorado, Oscar Gustavo Mendes Mila. Três horas depois, saiu sozinha, mas com uma aliança na mão esquerda. Outra igual estava no dedo anular de Oscar, dentro do avião. O casamento foi improvisado ali no saguão de embarque, onde Mônica comprou os anéis e trocou juras de amor. ¿Disse que ele só ia embora com uma aliança no dedo. Como não deu tempo de comprar antes, deixei para achar aqui.¿ Mônica não confiou no acaso ao procurar anéis no aeroporto. Nas 130 lojas de Cumbica pode-se comprar de agulhas a tapetes, passando por quadros, lingeries, jóias, jeans e produtos típicos, como cachaça, pão de queijo, pó de café e paçoca. Há ainda uma clínica odontológica, dois cabeleireiros, sushi- bar e pub estilo inglês, com direito a cerveja de quase todas as nacionalidades. E o plano de expansão da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) prevê a construção de cinema, sala de banho, clínica de estética, minilavanderia, costureira e sapateiro.

A variedade, que inclui produtos exclusivos, faz meros consumidores se misturarem cada vez mais aos viajantes. A idéia de que os melhores produtos chegam primeiro aos aeroportos foi reforçada pela Livraria La Selva, presente em Cumbica e em Congonhas. Por anos, ela foi a única da cidade a ter diversos títulos de revistas e jornais internacionais. Nas óticas, por exemplo, alguns modelos de óculos de sol são lançados com até três meses de antecedência.

Pelo menos num domingo por mês, a dona de casa Carla Santiago Saad sai de Moema, onde mora, para comprar rendas de sua terra natal na Fátima Rendas, que mantém em Guarulhos sua única loja em São Paulo. ¿Não tem outra loja na cidade com a mesma qualidade¿, garante. ¿É mais fácil do que ir até Recife.¿

O professor de odontologia João Lacerda Rodrigues prefere o Aeroporto de Congonhas, com suas 54 lojas, ao shopping. ¿Aproveito quando tenho de levar ou buscar alguém. Sei que vou encontrar produtos de qualidade porque o público que tem condições de voar é exigente e sempre quer novidades.¿

Apesar dessas exceções, o público principal ainda são os passageiros. A empresa Brasif explora lojas de duty-free na área restrita a passageiros em Cumbica e Guarulhos e têm pontos também nas áreas públicas dos dois aeroportos. Segundo seu diretor-geral, Gustavo Fagundes, 10% dos consumidores na área pública são visitantes e acompanhantes de passageiros. Os demais são pessoas com bilhete de embarque nas mãos. Destes, 60% compram por conveniência e 40% para presentear quem ficou longe.

Uma pesquisa feita pela Infraero apontou como compradores pessoas das classes A e B. No caso de Congonhas, os executivos são maioria. Em Guarulhos, predominam turistas em trânsito.

Em 2002, a Infraero criou o projeto de aeroshopping. Desde então vem trabalhando com lojistas e concessionários para ampliar serviços e produtos oferecidos às 160 mil pessoas, entre passageiros e funcionários, que passam diariamente por Congonhas e Cumbica. ¿O objetivo agora é apurar que tipo de produtos e serviços esses viajantes desejam, para direcionar as novas licitações e aumentar a base de consumidores¿, diz o diretor comercial da Infraero, Carlos Fonseca

Consumidores como a gerente de Comunicação Karla Teixeira, que duas vezes por mês vai a Buenos Aires e aproveita o tempo livre antes de embarcar para explorar os serviços disponíveis em Guarulhos. ¿Assim evito o trânsito e compro livros, faço escova e unhas.¿