Título: País cresce menos que a região
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

RIO - O Brasil corre o risco de crescer por quatro anos seguidos abaixo da média da América Latina, o que não ocorre pelo menos desde 1950. Em 2003 e 2004, o avanço brasileiro já foi abaixo da média. Para 2005 e 2006, as projeções de instituições e bancos indicam que o quadro deverá se repetir. O baixo desempenho da economia brasileira preocupa economistas, para os quais o País perde espaço relativo na região. Nos últimos 55 anos, a economia brasileira cresceu abaixo da média latino-americana apenas 16 vezes, segundo o banco de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na década de 70, por exemplo, o crescimento médio anual foi de 8,8% ante os 5,9% da região. Mesmo nos anos de 1980 a diferença era favorável ao País: 3% a 1,7%, segundo cálculos da economista do Ipea, Mérida Herasme. De 1990 a 2004, entretanto, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 2,1% em média ao ano, abaixo dos 2,6% da média da região.

A inversão do quadro vem desde a década passada. O crescimento nacional foi menor do que o do continente seis vezes (de 1990 a 1992 e de 1996 a 1997). Mas nos dois períodos o quarto ano acabou sendo favorável ao Brasil. Isso não deverá ocorrer desta vez. A média das previsões compiladas na Sinopse Internacional do BNDES indica que a expansão da América Latina será de 4,2% em 2005 e de 3,8% em 2006, acima das médias previstas para o Brasil, de 3,2% e 3,4%, respectivamente. A comparação com outras áreas do globo é ainda mais desvantajosa. Países como Coréia do Sul, China e Índia crescem a taxas de 6% a 9%.

O que impressiona é que o Brasil está conseguindo crescer menos do que a média dos países da sua região, que tem sido baixa nas últimas décadas.Num evento recente, sobre a obra do economista Celso Furtado, no qual o tema foi a necessidade da volta ao desenvolvimento, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira qualificou a situação regional nos últimos anos de "semi-estagnação".

O diretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, Renato Baumann, afirma que, "olhando os últimos anos e os próximos, o Brasil cresce a taxas mais baixas do que a média da região". A previsão da Cepal para expansão do País em 2005 (3%) perde apenas para a taxa estimada para o Paraguai (2,8%) e se iguala à do Equador (3%). Pelas projeções, a Argentina avançará 7,3%, Venezuela 7% e Chile 6%.

Para o economista da UFRJ, Fernando Cardim, o baixo crescimento é o preço que pagamos pela continuidade da política baseada no tripé câmbio valorizado, taxa de juros elevada e investimento público tendendo a zero. "Nós nos acostumamos a pensar no Brasil como um grande mercado. O tamanho desse mercado vem sendo relativizado. O tamanho dos grandes grupos do Brasil vem sendo relativizado", comenta o economista da Unicamp, Mariano Laplane.