Título: Grampos ligam homens de confiança de Palocci a esquema de Buratti
Autor: Expedito Filho e Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2005, Nacional, p. A4

Ex-secretário do ministro Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, o advogado Rogério Tadeu Buratti, mesmo sem cargo no governo Lula, é suspeito de participar de uma rede de tráfico de influência, servindo de ligação entre o governo, prefeituras petistas e empresários. É o que indicam grampos telefônicos em poder da CPI dos Bingos - foram gravadas dezenas de conversas de Buratti, com autorização judicial, entre fevereiro e setembro de 2004. Para o Ministério Público, as fitas apontam a participação de outros dois homens de confiança do ministro da Fazenda no esquema: seu chefe de gabinete, Juscelino Dourado, e seu secretário particular, Ademirson Ariovaldo da Silva. O Ministério da Fazenda informou que só se pronunciará após o término das investigações. Anteontem, Buratti acusou Palocci de receber propina de R$ 50 mil por mês para o PT quando era prefeito de Ribeirão.

Nas conversas, obtidas pelo Estado, Buratti revela que não pode falar por telefone com Dourado - e acrescenta que o principal assessor de Palocci não está autorizado a conversar determinados assuntos nas ligações. Eles só poderiam se comunicar pessoalmente.

CONCURSOS

Em uma das gravações, de 27 de maio, o ex-sócio de Buratti na Assessorarte - empresa que organiza concursos públicos -, Luiz Prado Garcia, reclama de dificuldades para resolver um problema na Receita Federal.

"Oi doutor, nós estamos com problema aqui na Receita Federal e eu não sei se a Rosângela chegou a comentar contigo... Apontaram uma dívida para nós de 99 que nunca existiu. Nós informamos o processo, mas o processo foi para a procuradoria do Ministério da Fazenda, da Receita Federal. Isso tá aqui desde o dia 13 e os caras não liberam a nossa certidão", diz Garcia. "Conversei com o procurador-chefe, mas o cara está irredutível. Será que você não conseguiria que Jusça (apelido de Juscelino Dourado) ou alguém para dar (sic) uma pistolada?" Rosângela é irmã de Buratti e sócia da Assessorarte desde 2002.

"Qual que é a urgência?", quis saber Buratti. "É que tem licitação amanhã em Ribeirão e eu faço questão de ganhar", responde. "Qual a licitação?", pergunta Buratti. "É uma de concurso amanhã 9 horas e depois tem outro trabalho em Jardinopólis, na segunda-feira, concurso e um planinho de cargos."

Nessa parte da conversa, Buratti informa que não pode ter esse tipo de conversa com "Jusça" por telefone. "Eu não tenho como falar hoje. Não estou falando por aparelho (telefone) e nem ele pode. Eu não consigo falar com ele. Você pode pedir para a Rosângela ligar para ele."

FAZENDA

Em outro trecho da escuta, no mesmo dia, Buratti relata a Rodrigo Resende Cavalliere, dono da empresa mineira MC Consulting - especializada em obter recursos internacionais para prefeituras - um encontro com alguém poderoso de Brasília. A promotoria investiga sociedade informal entre Buratti e Resende, como revelou o Estado.

"Você já esteve com seu colega?", perguntou Resende. "Estive ontem. Ele falou que achava que dava certo hoje. Deu não?", retrucou Buratti. "Tive com o nome que ele me deixou, mas ou o cara não queria me atender ou estava para lá e para cá. Mas eu te liguei porque achei que ele estava na área hoje", conta o interlocutor.

"Não..., foi ontem. Amanhã posso vê-lo em Ribeirão se você quiser", sugeriu Buratti. "Ele me contou a história e parece que vai dar certo e ele orientou o cara a ligar direto para o secretário de Planejamento de Belo Horizonte", revelou Buratti. E informou que o "colega" deu orientações: "Se tivesse problema era para avisá-lo. Ele estava em São Paulo e iria para Ribeirão. Acho que ia dar porque usou o chefe direto sem passar pelo secretário."

"Então é um clima bom para acontecer", finalizou Resende. A suspeita aqui, informam os procuradores, é de que o colega seja alguém do no Ministério da Fazenda.