Título: Lula reclama de 'jogo rasteiro' da oposição
Autor: Fausto MacedoAna Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2005, Nacional, p. A6

Em meio ao impacto da denúncia que atinge o seu mais importante ministro, Antonio Palocci, da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou à carga ontem contra seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, e - diante de 500 pessoas que foram vê-lo em Cidade Tiradentes, na periferia leste de São Paulo - desabafou. "Eu sei da quantidade de leviandades, eu sei do jogo rasteiro que está sendo feito neste país. Mas eu aprendi com uma analfabeta que morreu aos 64 anos (referência à mãe): não perca nunca a esperança, persevere sempre e ande de cabeça erguida, porque a verdade vencerá", afirmou. Do palanque improvisado, que os moradores do conjunto Santa Etelvina montaram para recebê-lo, o presidente falou sobre honra. "Não sei quantos brasileiros ou brasileiras, não sei quantos, podem botar a cabeça no travesseiro à noite e dormir um sono dos justos", discursou, de improviso. "Eu posso dizer por mim. Eu durmo com o sono de um homem que sabe o que quer, que sabe o que este país precisa, que sabe o que o nosso povo deseja." E arrematou com velha promessa: "Vamos cumprir aquilo que nos comprometemos a cumprir entre o governo e o povo brasileiro." Lula chegou a Cidade Tiradentes às 10h30 para a inauguração de uma fábrica de bolas, costura e estamparia do programa "Pintando a Cidadania" - parceria com o Ministério do Esporte. Veio com a mulher, Marisa Letícia, dois ministros, e alguns deputados. Percorreu instalações da Associação dos Mutuários e Moradores da Santa Etelvina (Acetel) e o complexo olímpico que abriga outro programa do Ministério do Esporte, o Segundo Tempo, que atende 5 mil crianças da região.

Em seu discurso de 20 minutos, o presidente não fez da crise do mensalão o tema central. Uma vez mais, como tem feito em sua peregrinação pelo País, ressaltou as ações do seu governo, dizendo que em 32 meses de gestão criou 3,2 milhões de empregos com carteira assinada - segundo seus cálculos, 12 vezes mais do que Fernando Henrique conseguiu fazer em oito anos de mandato.

"São 105 mil empregos novos por mês, enquanto no outro governo a média mensal era de 8 mil. A gente precisa governar para quem pode menos, é assim que este país dará certo. É por isso que estamos sofrendo tantos ataques", prosseguiu Lula.

AGRICULTURA

Em junho de 2003, disse Lula, o plano Safra para a agricultura familiar tinha liberado R$ 2,2 bilhões. "Este ano, em julho, nós terminamos liberando R$ 6,25 bilhões, três vezes mais do que foi liberado quando entramos", enfatizou. "Colocamos R$ 9 bilhões para safra deste ano."

Empolgado, mas com o semblante tenso, Lula também mencionou o programa Bolsa-Família. "É um programa para atender as pessoas mais pobres da população, que chegará em dezembro com 8,7 milhões de famílias recebendo o benefício. É a maior política de transferência de renda existente em qualquer país do mundo."

E prosseguiu: "Alguns falam que é esmola. Para alguns pode parecer esmola. Para quem levanta de manhã, tem café para tomar, pode almoçar e jantar todos os dias, é esmola. Mas quem sabe o que é uma mãe levantar de manhã e não ter um copo de leite para dar para o filho sabe que R$ 85 não é esmola, é uma dádiva de Deus."

APOIO DE CRIANÇAS

Duas irmãs, de 8 e 10 anos, foram à portaria do apartamento de Lula, em São Bernardo, ontem, por volta das 21 horas, para entregar dois cartazes em apoio ao presidente. Tainá e Thaís Pedroso de Souza, moradoras da vizinhança, no bairro Santa Teresinha, escreveram que acreditam na inocência de Lula e lhe disseram para não perder a esperança, pois a verdade prevalecerá, quase repetindo as palavras de Lula pela manhã em Cidades Tiradentes. Um segurança da comitiva presidencial levou os presentes para o apartamento de Lula.

Num dos cartazes, enfeitados com corações e flores, as meninas escreveram em vermelho: "Somos crianças. Acreditamos em você. Sabemos que você é inocente dessa crise política. Lula, nunca perca a esperança. A verdade prevacerão"(sic). Noutro cartaz, estava escrito: "Lula, acredito em você. Você é inosente"(sic).