Título: Lula diz a empresários que, aconteça o que acontecer, economia não muda
Autor: Sonia Racy
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2005, Nacional, p. A6

Aconteça o que acontecer, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai mudar o rumo da política econômica. Esse foi o principal recado passado aos empresários do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), na sexta-feira, em São Paulo, em jantar na casa de Ivoncy Iochpe, que deixa a presidência do Iedi para dar lugar a Josué Gomes da Silva, dirigente da Coteminas e filho do vice-presidente José Alencar. Alencar, recém-operado, ficou pouco no jantar, que começou às 20 horas e terminou por volta de meia-noite. Pelo que se apurou, a posição de Lula foi firme, mesmo diante da cobrança dos empresários, preocupados com a alta taxa de juros e o câmbio valorizado. O presidente tem sido rígido com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) há tempos e deve ser mais duro ainda agora, após as acusações de recebimento de propina durante sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto.

"Nisso, o Lula é coerente. Ninguém imagina que ele iria, nesse momento, mudar de posição", contou um dos 25 empresários presentes ao jantar, acompanhados de suas mulheres. Lula não levou Marisa. Alguns dos convidados são da opinião de que, se Palocci sair, nada acontecerá de mais grave a médio e longo prazo, mesmo com alguma volatilidade a curto prazo. Outros acreditam que a manutenção do ministro no cargo é importante nesse momento de aguda crise política. O Iedi, diga-se de passagem, não concorda com a atual política monetária (ver página B2).

Ninguém fez discurso e Lula ficou sentado boa parte do tempo, mostrando tranqüilidade. Jantou, tomou vinho e depois fumou um charuto, em uma mesa de seis lugares, pela qual os empresários se revezavam nas cadeiras. Disse que não vai abrir mão do seu ministro da Fazenda. E que, hoje, vai conversar com Palocci, com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e outros integrantes do governo para definir qual posição tomar ante a forte onda de denuncismo e do procedimento do Ministério Público, que considera inadequado e irresponsável. Citou particularmente o promotor de Ribeirão Preto, que interrompeu o depoimento de Buratti, sexta-feira pela manhã, para dar notícias à imprensa. Reclamou também da oposição, de uma maneira geral.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, compareceu ao jantar, mas ficou pouco. Durante o tempo em que permaneceu ali, foi bastante assediado pelos empresários.

Aliás, parte dos convidados não gostou do convite feito a Lula. Acharam que não era a ocasião certa, que o acontecimento teria de girar em torno do novo presidente eleito do Iedi, que acabou ficando em segundo plano. Detectou-se, também, uma certa frustração e tristeza entre alguns empresários que apoiaram Lula.

Quanto à reeleição, Lula disse que não mexerá na atual regra do jogo, pois não concorda em mudanças no meio do caminho. Não disse se vai se candidatar à reeleição, preferiu desconversar e comentar que tal decisão só tomará daqui a algum tempo. "Acho que o presidente poderia ter aproveitado para ouvir os empresários. Ele falou 95% do tempo e não colheu opiniões sobre a crise", reclamou outro participante.

Lula sugeriu a um grupo de empresários que escolhesse um projeto das PPPs para fazer andar. Seria um fato positivo a ser anunciado. Um dos que ouviram a sugestão explicou ao presidente que, do jeito que está, sem regulamentação, sem entrosamento entre os ministérios, as PPPs não vão sair do lugar. Lula insistiu que sim, basta vontade política.

Os empresários reclamaram da paralisação do Congresso e do Executivo, mas não disseram uma só palavra sobre o caixa 2 do PT. Tampouco ouviram de Lula qualquer pedido de apoio e não reclamaram dos ataques públicos de Lula às "elites brasileiras". "Não havia espaço para levantar esse tipo de assunto", justificou uma das cinco fontes ouvidas pelo Estado que estavam no jantar. No entanto, esses foram os principais assuntos das rodas que se formaram durante o jantar, sem que Lula ouvisse. E, como em toda crise, foi o último fato que prevaleceu: a inclusão de Palocci nas denúncias. O clima do evento não foi exatamente o de animação.