Título: Agora é hora de mudar, avaliam deputados
Autor: Lourival Sant¿Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2005, Nacional, p. A12

Muitos parlamentares acreditam que a hora é essa. "Reformas profundas como essa só acontecem em momentos de crise", diz o deputado Rubens Otoni (PT-GO), relator da reforma política na Comissão de Constituição e Justiça. "Se está tudo bem, ninguém vai querer mudar." "A reforma eleitoral aprovada no Senado é útil, mas extremamente limitada", pondera o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Por outro lado, ele considera muito difícil que a proposta da Câmara, "uma reforma política de verdade", possa ser aprovada. A crise ajuda: "Só em momentos de crise a gente consegue fazer modificações." Desse silogismo, Goldman concorda que a conclusão é: pode ser preciso uma crise ainda mais profunda para fazer uma reforma política para valer. Para a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), não é hora de querer aprovar uma reforma política. A deputada lembra que o projeto da Câmara, no qual Ronaldo Caiado trabalhou por dois anos e meio, foi discutido durante um ano só na Comissão de Cidadania, em 2003, quando foi objeto de dezenas de audiências públicas. "Isso não é matéria simples, que se pauta, discute e aprova."

"O do Senado é pior ainda" acha Erundina. "Querer maquiar com pontos aqui e acolá é ilusão. Gera expectativa que se frustra." Erundina não vê credibilidade no Congresso para promover a reforma. "Quem vai votar essa proposta?", pergunta. "Os que estão sendo acusados?" Mesmo o que parece simples não é. O cientista político Bruno Speck, da Unicamp, alerta que o encurtamento da campanha pode reduzir as chances dos candidatos sem mandato, que têm menos visibilidade do que os adversários com mandatos. "O encarecimento da campanha, por si só, não é sinal de deterioração da democracia, mas de mais competitividade", analisa o especialista.

O deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP) também acha que a Câmara precisa de mais tempo para discutir a reforma. Ele apóia a proposta de emenda do deputado Ney Lopes (PFL-RN), de prorrogar de 30 de setembro para 31 de dezembro o prazo para mudanças nas regras eleitorais que valham para as eleições de 2006.

"Além da punição dos envolvidos, essa crise só terá um resultado bom se tiver como decorrência uma reforma política", diz o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Ele admite, no entanto, que a tendência não é essa. Cardozo acha que a proposta que vem do Senado traz regras "muito boas, mas muito aquém do necessário".

"Um dos maiores erros do governo Lula foi ter engavetado a reforma política", diz o deputado Chico Alencar, da ala esquerda do PT do Rio. "Devia ser a primeiríssima das reformas. O governo ficou refém de um esquema político-eleitoral degenerado, que é a porta da corrupção, da mercantilização do voto e do aluguel de mandatos. Se não se mexer nisso, não tem jeito."

Dizem que o ótimo é inimigo do bom. Ao que tudo indica, o projeto que vem do Senado será recebido na Câmara como o que dá para fazer neste momento.