Título: Depois das aulas, malabares no sinal
Autor: Alceu Luís Castilho
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Metrópole, p. C1

Com apenas 15 anos de idade, o garoto Samuel tem uma grande responsabilidade: sustentar toda a sua família. Todos os dias, ele sai às 11 horas da escola na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, e vai para o semáforo do cruzamento da Avenida Brasil com a Rua Veneza, no Jardim Paulista. "Minha mãe tem uma espécie de tumor na perna e não pode trabalhar. Aí, eu tenho que ajudar", diz. Órfão de pai e com três irmãos, há quatro anos Samuel arrecada dinheiro fazendo malabares. "Aqui consigo quase R$ 20 por dia." Ele conta que não gostaria de estar na rua, mas diz que não tem alternativa. "Já tentei emprego em supermercado e em lojas, mas não consegui." Todo o dinheiro que a mãe recebe do Renda Mínima, da Prefeitura, é utilizado para comprar remédios.

No ano passado, Samuel ganhou a companhia dos dois irmãos mais novos. "Melhor trazê-los comigo do que deixar na rua roubando com os outros meninos." A única menina da família fica com a mãe.

A alguns quilômetros dali, Natália, de 9 anos, não foi poupada. Pelo menos três vezes por semana, ela falta às aulas da escola, na zona norte, para ajudar o irmão Eliseu a pedir dinheiro. "O melhor lugar é perto da Avenida Paulista. Lá, a gente ganha mais", conta.

Enquanto Eliseu brinca com as bolinhas de tênis na frente dos carros, a garota recolhe o dinheiro com os motoristas. Natália também é responsável por cuidar dos irmãos pequenos, um de 5 e outro de 3 anos. Ontem, a família estava na frente do Estádio do Pacaembu, na zona oeste.

Questionada se a mãe dela sabia onde estava, ela disse que sim. "Minha mãe está velha e a gente tem que ajudar."