Título: Semana testa resistência do mercado
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Espera-se com expectactiva as reações depois das explicações dadas por Palocci. Ansiedade maior é se ministro fica no cargo

A semana no mercado financeiro começa cheia de expectativa depois das explicações dadas ontem pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre acusações de um suposto esquema de recebimento ilegal de recursos de empreiteiras em Riberirão Preto, quando Palocci era prefeito. As acusações foram feitas por Rogério Buratti, então um dos assessores de Palocci. A denúncia agitou os mercados na sexta-feira. Provoca inquietação a incômoda constatação de que todos os petistas alvo de denúncias na crise em andamento deixaram seus postos. O estrategista-chefe do Banco BNP Paribas Brasil, Alexandre Lintz, diz que o principal temor é com a continuidade da política econômica com a eventual saída do ministro. "Palocci faz o meio de campo entre uma política econômica dura que comanda e a pressão dos que resistem a ela." Uma política que tem assegurado resultados vistosos, como a inflação sob controle e o forte superávit primário (sem incluir as despesas financeiras com juros) nas contas públicas.

Lintz destaca que um dos fatores amortecedores do impacto sobre o mercado financeiro é que a crise política coincide com um momento muito favorável no cenário externo, com liquidez abundante (ampla disponibilidade de recursos), propensão do investidor em assumir riscos e crescimento econômico.

Fora da política, o principal foco do mercado financeiro é a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que, na semana passada, manteve o juro básico em 19,75% ao ano, pela terceira vez consecutiva. O documento, que será divulgado na quinta-feira, deve indicar como o Banco Central avalia o cenário de inflação e de atividade econômica para ver se, na combinação de ambas, existe espaço para o corte da taxa básica de juros. A maioria dos analistas prevê redução a partir de setembro, mas é preciso ver até que ponto uma valorização do dólar não vai pressionar a inflação, diz Lintz.

O executivo do BNP Paribas Brasil comenta que o comportamento do dólar e do risco país, que fechou sexta-feira em 420 pontos, nível mais elevado desde 27 de junho, serão fatores determinantes para a decisão do Copom em setembro. Ele pondera, contudo, que desta vez o dólar pode ter menos mobilidade que em crises anteriores em que boa parte da dívida pública estava amarrada a títulos cambiais e havia fragilidade nos resultados da balança comercial.

Outro indicador importante, que será conhecido também na quinta-feira, é a inflação de agosto pelo IPCA-15, estimada em 0,12%. O IPCA-15 é considerado uma antecipação do IPCA, que serve de referência para o regime de metas de inflação. Na sexta-feira, serão divulgados os dados consolidados das contas do setor público com um superávit primário projetado de R$ 6,6 bilhões em julho.