Título: MEC credencia, mas não fiscaliza qualidade
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, Vida&, p. A18

Faltam apoio às escolas e preparação aos professores; alunos de diferentes faixas etárias freqüentam mesma sala

Embora sejam uma solução para os estudantes que vivem temporariamente no Japão, muitas das cerca de 80 escolas brasileiras que funcionam no país não têm a mesma qualidade dos colégios particulares do Brasil. "Existe escola que funciona em casa velha, sem estrutura nenhuma", reclama o padre Evaristo Higa, que há 13 anos trabalha com a comunidade brasileira de Hamamatsu. "E o pior é que os pais pagam como se fosse uma escola boa do Brasil." Depois de estudar quatro anos, até o 3º ano do ensino médio (antigo 2º grau), numa escola brasileira do Japão, Vinícius Leandro Nozu, de 20 anos, precisou fazer curso pré-vestibular no Brasil para conseguir passar numa universidade. "No cursinho, vi coisas que não tinha aprendido direito na escola. No Japão, os professores não cobram muito da gente", conta ele, que neste ano começou a estudar economia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Vinícius diz que, em seu último ano no Japão, a mesma sala de aula comportava alunos de quatro séries diferentes. Por causa disso, os professores não podiam dar atenção integral a nenhuma turma. "Enquanto o professor explicava para os outros alunos matérias que já sabíamos, nós passávamos boa parte do tempo enrolando." Além disso, era comum o ano terminar e o livro ainda estar pela metade. "É como escola da roça", compara o padre Higa.

Outro problema das escolas brasileiras em solo japonês é a dificuldade dos professores em se atualizar. Muitos haviam deixado o magistério anos antes e trabalhavam nas indústrias do Japão quando foram convidados para voltar a dar aula.

O principal motivo de todos esses problemas é a ausência de um órgão público brasileiro que acompanhe e fiscalize o trabalho pedagógico dessas instituições de ensino. "O Ministério da Educação credencia as escolas, mas depois não acompanha. Elas não têm nenhum apoio do governo. Não basta aprovar", critica o padre Higa.

Foi com o objetivo de cobrar apoio do MEC que alguns colégios se organizaram e criaram a Associação das Escolas Brasileiras no Japão (AEBJ), que hoje reúne 37 instituições. "Existem escolas ruins, principalmente as que não são filiadas à associação. A situação é bastante complicada", afirma o presidente da AEBJ, Paulo Galvão. "Nós cobramos apoio do ministério, embora saibamos que, se é difícil resolver os problemas educacionais do Brasil, mais complicado ainda é resolver os problemas daqui."

A Assessoria Internacional do MEC informa que está preparando um censo dos colégios brasileiros no Japão. Segundo a responsável pelos temas japoneses, Cláudia Soares, os técnicos que vão aplicar o exame supletivo para os brasileiros adultos que vivem no país, em outubro, aproveitarão a viagem para fazer uma inspeção nas escolas credenciadas.