Título: Decreto de Abbas faz das ex-colônias terras públicas
Autor: Israel inicia demolição em larga escala
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, Internacional, p. A14

Autoridade Palestina se prepara para assumir o controle e evitar apropriação indevida das áreas que Israel transferirá aos palestinos

GAZA - O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, assinou ontem um decreto de apropriação da terra ocupada pelas colônias judaicas para uso público assim que a retirada israelense for concluída. Abbas anunciou que as eleições para o Conselho Legislativo Palestino (Parlamento) serão em 25 de janeiro e não no dia 21, como dissera antes, para não coincidir com o período de peregrinação dos muçulmanos a Meca. O decreto de Abbas tem como objetivo afirmar a autoridade de seu governo sobre o território da Faixa de Gaza, onde é forte a influência de líderes políticos locais e de grupos armados e a corrupção entre funcionários públicos está profundamente enraizada. Os palestinos temem que as terras desocupadas pelos colonos sejam apropriadas por dirigentes da Fatah, a facção no poder.

As 21 colônias judaicas abrangiam cerca de um quarto da Faixa de Gaza. Desse total, 9% é reivindicado por palestinos que dizem ter títulos de propriedade. Segundo a AP, 95% são terras públicas e 5% de particulares. O governo está organizando um forte esquema de segurança para evitar a invasão das terras depois que Israel transferir seu controle para a AP.

Enquanto Abbas divulgava o decreto, dezenas de homens mascarados do grupo islâmico Hamas desfilaram pela praça principal de Gaza, numa atitude de desafio ao governo. "Nós manteremos nossas armas e nosso equipamento militar, e vamos desenvolvê-lo mais, se Deus quiser. Nossa batalha com o inimigo é longa e vai continuar", declarou um porta-voz, conhecido apenas como Abu Obaideh. Ele insistiu que não haverá trégua na campanha para expulsar Israel da Cisjordânia e Jerusalém. "Vamos trabalhar para fortalecer a resistência nessas áreas." A confirmação da data das eleições foi um gesto do governo para aplacar o Hamas, que teve forte votação nas eleições municipais deste ano.

Pela primeira vez desde a criação da AP, em 1994, o Hamas, que tem como meta a criação de um Estado islâmico, participará de uma eleição parlamentar. O grupo tem condições de derrotar a Fatah (organização secular) na Faixa de Gaza e em cidades importantes da Cisjordânia. Abbas vem sendo pressionado por Israel e pelos EUA a desarmar o Hamas, mas ele optou pela estratégia de cooptar o grupo para a participação na vida política e no governo.

Líderes do Hamas receberam bem o anúncio da data da eleição. "Já preparamos uma lista de candidatos e até reservamos uma vaga para um representante da minoria cristã", disse Hassan Yousef, dirigente na Cisjordânia.

Ainda ontem, 200 membros das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, milícia da Fatah responsável por vários ataques contra israelenses, protestaram em Gaza, exigindo empregos. Em sua campanha presidencial, Abbas prometeu dar emprego a membros dos grupos que deixassem a via armada.