Título: Decreto de Abbas faz das ex-colônias terras públicas
Autor: Israel inicia demolição em larga escala
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, Internacional, p. A14

Exército derruba casas e esvazia 20 das 21 colônias em Gaza; tensão é grande nas 4 que serão removidas da Cisjordânia

GUSH KATIF, FAIXA DE GAZA - O Exército de Israel destruiu ontem dezenas de casas em quatro colônias judaicas já esvaziadas na Faixa de Gaza, na primeira demolição em larga escala desde o início, na semana passada, da operação israelense de retirada desse território. Em poucas horas os assentamentos de Nissanit, Dugit, Peat Sadeh e Ganei Tal se transformaram em montanhas de escombro envoltas em nuvens de poeira. Na sexta-feira, os militares haviam destruído um embrião de colônia formado por trailers.

A meta do Exército é concluir a demolição em duas semanas, para então começar a remoção de bases e postos militares. Depois, o território será entregue ao controle da Autoridade Palestina (AP). Ontem também as tropas esvaziaram mais seis assentamentos na Faixa de Gaza, encontrando resistência de manifestantes que armaram barricadas com pneus em chamas. O maior bloco de colônias, o de Gush Katif, no sul, foi totalmente esvaziado ontem. Já foram removidos os moradores de 20 das 21 colônias da Faixa de Gaza, restando Netzarim - que tem 450 residentes, fica isolada no centro do território e será esvaziada hoje.

Ontem o gabinete do primeiro-ministro Ariel Sharon aprovou formalmente a remoção das três últimas colônias da Faixa de Gaza e de quatro pequenas e isoladas no norte da Cisjordânia. Ao mesmo tempo, na Cisjordânia, os soldados enfrentaram ultranacionalistas nas quatro colônias que serão removidas (Kadim, Gadim, Sanur e Homesh).

Dezenas de extremistas entraram em luta com os soldados e cortaram pneus de jipes do Exército perto de Sanur. Dez policiais e soldados ficaram feridos. O governo teme que 2 mil ultranacionalistas acampados perto de Sanur e de Homesh imponham resistência violenta.

O comandante-chefe do Exército, general Dan Halutz, disse ontem que colonos de Homesh e Sanur e seus aliados estão estocando armas. "É preocupante o fato de um grupo de extremistas querer ditar os fatos em Israel", declarou Halutz.

Na Faixa de Gaza, um soldado israelense ficou ferido na mão por disparos de um franco-atirador palestino contra um tanque, perto da colônia de Neve Dekalim. Esse foi um dos poucos ataques durante a operação de retirada israelense, já que grupos radicais como o Hamas e a Jihad Islâmica se comprometeram com a AP a manter um cessar-fogo.

Segundo Halutz, desde o início da retirada, há uma semana, houve 19 ataques de palestinos, número muito inferior à média . Ele disse que a coordenação entre Israel e a AP para manter a calma está sendo muito boa.

Os dois lados ainda têm de finalizar um acordo sobre a remoção dos escombros. Parte do entulho, especialmente material perigoso, será enterrado fora da Faixa de Gaza. Outra parte os palestinos pretendem usar em obras de infra-estrutura. No lugar das colônias a Autoridade Palestina tem planos de erguer edifícios residenciais para abrigar cerca de 250 mil pessoas hoje vivendo precariamente em campos de refugiados.