Título: Gasto com lixo cresceu nos governos do PT
Autor: Ricardo Brandt e Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Dados da prefeitura de Ribeirão Preto revelam que, quando Antonio Palocci esteve à frente da administração municipal, a cidade passou a gastar mais com o recolhimento de lixo. O aumento se deu nas duas gestões do hoje ministro da Fazenda, entre 1993 e 1996 e nos anos de 2001 e 2002. Na entrevista em que rebateu as acusações de seu ex-assessor Rogério Buratti, Palocci garantiu nunca ter recebido nenhum dinheiro da empreiteira Leão Leão para garantir à empresa contratos com a prefeitura. O ministro lembrou que o principal contrato de lixo obtido pela empresa foi assinado na gestão anterior à dele, do tucano Luiz Roberto Jábali.

De fato, o contrato de coleta de lixo doméstico foi celebrado, com licitação, em 1999, na gestão de Jábali. O que Palocci não mencionou é que, pelo documento, a prefeitura de Ribeirão Preto pagaria R$ 17 por tonelada recolhida. Logo após a posse do petista, o contrato sofreu sucessivos aumentos e chegou a R$ 23,31 por tonelada em 2002, quando ele deixou a prefeitura. Depois disso, continuou subindo, até chegar a R$ 32,76 por tonelada no final de 2004.

Os gastos anuais da prefeitura ressaltam a diferença. Em 2000, último ano de Jábali como prefeito, o município pagou à Leão Leão, pelo contrato, R$ 2,4 milhões. No último ano de Palocci à frente da prefeitura, em 2002, a cidade injetou R$ 3,3 milhões nos cofres da empresa. Em 2004, com o comando da prefeitura nas mãos de Gilberto Maggione, que foi vice na chapa de Palocci, o montante gasto chegou a R$ 4,2 milhões.

A série histórica dos gastos da Prefeitura com o contrato mostra que o recorde de pagamentos ocorreu na primeira gestão de Palocci. Naquela época, o município pagava R$ 50,53 pela tonelada recolhida. A Rek Construtora, empresa responsável pelo serviço na ocasião, tem ligações com Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido.

Na semana passada, quando foi depor na Comissão de Ética do PT, Delúbio apareceu num Ômega blindado. O carro está no nome da Rek Serviços, empresa do grupo Rek que aluga automóveis. O custo da diária do veículo é de R$ 800.

PREÇOS EM ALTA

Os dados do município de Ribeirão Preto indicam que, durante a gestão de Jábali, os gastos com o contrato caíram de forma gradativa. Assim que assumiu a Prefeitura, Jábali pressionou a Rek a baixar os preços. Sob ameaça de perder o contrato, a empresa aceitou reduzir de R$ 50 para R$ 42 o custo por tonelada. Um ano depois, baixou novamente o preço, para R$ 35 por tonelada. O valor do contrato chegou a R$ 17 por tonelada quando a Leão Leão ganhou a licitação, em 1999.

Já na gestão Palocci, a Leão Leão, grande doadora da campanha dele, faturou outro contrato milionário, desta vez de recolhimento de lixo hospitalar e de manutenção de aterro sanitário. Assinado em 19 de fevereiro de 2002, o contrato está estimado em R$ 41,6 milhões por sete anos de serviço.