Título: Leão Leão obteve contratos de R$ 46 milhões na gestão Palocci
Autor: Ricardo Brandt e Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A4

RIBEIRÃO PRETO - A empresa Leão Leão assinou 8 contratos sem licitação e venceu uma concorrência pública de R$ 41 milhões com a prefeitura de Ribeirão Preto entre 2001 e 2002, na gestão do atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ao todo são R$ 46 milhões em contratos só na área de limpeza urbana. A concorrência pública e a maior parte dos contratos sem licitação são dos serviços de operação do aterro sanitário, limpeza hospitalar e coleta seletiva. As descobertas podem colocar em xeque a defesa do ministro, que anteontem deu entrevista para rebater as acusações de receber em seu governo em Ribeirão R$ 50 mil mensais de propina da Leão Leão. As acusações foram feitas por seu ex-assessor Rogério Buratti, que vai ser indiciado por formação de uma quadrilha que fraudava licitações. Na coletiva, Palocci não deu detalhes dos contratos emergenciais e a concorrência do aterro. Ele havia dito que "nenhum contrato" firmado em seu governo tinha a dimensão do contrato de coleta de lixo e varrição, no valor de R$ 50 milhões, que a Leão Leão detém em Ribeirão desde 1999. Esses serviços foram contratados pelo ex-prefeito Luiz Roberto Jábali (já morto). Em Ribeirão, os serviços de coleta de lixo e a operação do aterro sanitário foram divididos em dois contratos, em 1998.

Arquivos dos computadores da presidência da empresa, apreendidos pelo Ministério Público Estadual ano passado, mostram uma tabela de acompanhamento dos contratos mantidos com a prefeitura de 1998 até 2002. Registrada na pasta "Relatório de contratos-Ribeirão Preto", a tabela mostra que a Leão Leão vinha ganhando contratos sem licitação na prefeitura desde 1998, na gestão Jábali.

Dos 8 contratos feitos sem licitação na gestão Palocci, 5 são contratações emergenciais para operação do aterro - feitas antes da contratação oficial (por licitação) por R$ 41 milhões, em 15 de fevereiro de 2002, com validade para 5 anos.

Esses contratos foram feitos pelo Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão (Daerp), que, na época, tinha como superintendente Isabel Bordini, mulher de Donizete Rosa, homem de confiança de Palocci que foi levado no ano passado para a diretoria do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Representantes do Daerp confirmaram ontem as contratações e os valores. Cada um custou R$ 769,5 mil e durou 90 dias.

Palocci divulgou nota (ver texto na página 6) em que confirma a existência do contrato da operação do aterro e diz que ele "não foi objeto de questionamento na coletiva".

Foram feitos ainda três contratos sem licitação pela Secretaria Municipal de Administração para serviços de limpeza emergencial (R$ 4,4 milhões, ao todo). Houve outras contratações pontuais sem concorrência. A Leão Leão nega ter dado propina.