Título: Promotores prometem silêncio até fim do inquérito
Autor: Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A6

RIBEIRÃO PRETO - Os promotores do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Ribeirão Preto informaram ontem que não vão mais se pronunciar sobre a investigação de fraudes em licitações para coleta do lixo em prefeituras paulistas e mineiras. Só deverão prestar informações no final do inquérito policial - decisão tomada com base em recomendação do procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho. "Não existe ainda juízo de valor para mandar o caso para o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro (Antonio) Palocci não é investigado nesse inquérito", ressaltou o promotor Sebastião Sérgio da Silveira.

Silveira, que na sexta-feira revelou declarações do advogado Rogério Buratti à imprensa, durante um intervalo do depoimento, ontem estava inconformado com a repercussão do episódio. Ele e seus colegas ficaram indignados também com a informação de que o Ministério Público teria gravado o depoimento e repassado à TV Globo - alegam que foi a Polícia Civil.

Silveira se irritou, ainda, com informações sobre suposto "entra e sai" de promotores da sala onde ocorreu o depoimento. "Eu, que mais conheço os fatos, por que eu sairia?"

Três promotores de Ribeirão deram ontem uma coletiva à imprensa para anunciar a decisão de silenciar até o fim do inquérito. Na entrevista, disseram que desconheciam a intenção de Buratti de citar Palocci.

"Ele nos perguntou o que queríamos saber e dissemos que interessava o esquema do lixo. Ele demonstrou medo, porque o clima é pesado", relatou Silveira. "Foi uma surpresa (a citação de Palocci) e entramos em contato com o procurador-geral para saber o que fazer."

"Como o caso não está sob sigilo, foi dada publicidade", prosseguiu ele. "Como deveria ser noticiado? Enfiar tudo embaixo do tapete? Cumprimos a nossa função, não houve erro." E finalizou: "Vamos apurar a verdade e talvez possamos falar que o ministro é inocente."

ALCKMIN

Indagado sobre o assunto, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que "o MP é um órgão independente" e responde por suas decisões. "Alguns fazem confusão, achando que é subordinado ao Executivo. Ele é totalmente independente. A sua função é essa. É questionadora, na busca da verdade e em defesa da sociedade", afirmou. "Quem deve falar é o procurador geral."

Alckmin voltou a elogiar a decisão do ministro de ir a público se defender e comentou que tem "uma relação de civilidade" com Palocci de longo tempo, desde quando o petista era prefeito de Ribeirão Preto.