Título: Irmãos de Daniel vão denunciar esquema
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A10

João Francisco Daniel e Bruno Daniel, irmãos do prefeito Celso Daniel - executado depois que decidiu combater esquema de corrupção na administração do PT em Santo André, segundo promotores - vão à polícia para contar o que sabem. Eles não aceitam a primeira conclusão da polícia, de que a morte de Daniel foi crime comum. João Francisco afirma ter ouvido de dirigentes do PT que o dinheiro de licitações forjadas abastecia campanhas eleitorais do partido. Ele e Bruno são testemunhas importantes no novo inquérito, que teve suas metas estabelecidas ontem, durante reunião entre promotores e a delegada Elizabeth Sato.

"Vamos trabalhar com transparência total", anotou Elizabeth, reconhecida como policial experiente e dedicada. "O primeiro encontro foi muito importante para definir uma linha de investigação, as dúvidas que precisam ser esclarecidas. O objetivo é a busca da verdade real, saber o que aconteceu."

Os promotores que investigam o crime estão convencidos de que Daniel foi vítima de "crime de mando". Eles acusam o empresário Sérgio Gomes da Silva de ter sido um dos mandantes. Gomes é réu no processo sobre a morte do prefeito.

"Ótimo que a investigação vai recomeçar, porque vai mostrar que Sérgio não é mandante do crime", comentou o criminalista Roberto Podval, advogado do empresário.

"O novo inquérito policial vai investigar a participação de outros mandantes", declarou o promotor Roberto Wider. Pelo menos 5 pessoas estão sob suspeita. Wider destacou que o ex-ministro José Dirceu não pode ser investigado pela promotoria paulista porque tem foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal. "A investigação tem de partir do STF ou da Comissão de Ética da Câmara", observou o promotor Amaro Thomé.

Os promotores suspeitam que a morte de Daniel tenha custado US$ 40 mil aos mandantes. Sete acusados pela execução estão presos. Um deles decidiu colaborar com o Ministério Público e revelou que o crime foi ordenado em Campinas, no dia 19 de janeiro de 2002 - Daniel havia sido capturado na noite anterior.

Entre os investigados pelo MP está o deputado estadual Donizete Braga (PT). Em 2004, os promotores iniciaram apuração acerca de suposta ligação do parlamentar com o empresário Sérgio Gomes, mas a Procuradoria-Geral assumiu o caso perante o Tribunal de Justiça. Donizete nega envolvimento.

Os promotores avaliam que Daniel foi eliminado porque descobriu que o esquema de corrupção "estava desviando mais dinheiro em benefício próprio do que em benefício do caixa 2 para financiamento de campanhas do PT".