Título: Tarso dá até amanhã para Dirceu sair de chapa do PT
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A11

O presidente interino do PT, Tarso Genro, deu um ultimato ontem ao deputado José Dirceu para que ele deixe, até amanhã, a chapa do Campo Majoritário às eleições internas do partido. Caso contrário, Tarso não representará o Campo na disputa pela presidência, marcada para 18 de setembro. "Só me disponho a ser candidato numa situação de rompimento (com o núcleo dirigente anterior)", afirmou, sem citar nomes. "Não peço o afastamento de ninguém. As pessoas voluntariamente devem tomar decisões políticas." Apesar de ter recebido apelos de vários dirigentes, Dirceu permanece irredutível. Tem dito a aliados que o pedido de afastamento seria uma espécie de confissão de culpa. Ontem, por meio de sua Assessoria de Imprensa, arrefeceu o tom. "Tenho boa vontade. Quero ajudar Tarso, quero ajudar a chapa e estou terminando as consultas que tenho feito. Devo tomar uma decisão até quarta-feira", afirmou Dirceu.

Mesmo com esse sinal positivo, vários petistas acreditam que o deputado não mudou de posição. "Ele pode até se afastar para ajudar o Campo, mas só vai fazer isso quando o Tarso não for mais o candidato a presidente", aposta um parlamentar.

Hoje e amanhã, Tarso tem uma série de conversas agendadas com integrantes da cúpula petista, inclusive com o secretário-geral, Ricardo Berzoini, cotado para substituir o ex-ministro da Educação caso ele desista da candidatura. Berzoini evitou falar à imprensa ontem. A interlocutores, não negou a hipótese de ser candidato. Insiste que prefere Tarso, mas não deve abrir mão da disputa. Ontem, o próprio Tarso citou o nome de Berzoini, depois de listar o prefeito de Aracaju, Marcelo Deda, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Deda negou ontem que possa assumir a corrida. "Ser presidente do PT é incompatível com a prefeitura de Aracaju. E não vou renunciar. Tarso é o melhor nome." Dulci e Marco Aurélio também resistem a abandonar seus cargos no governo.

"O problema é que o Tarso Genro fechou portas e janelas e não deixou nenhuma brecha para negociar", afirmou o secretário de Mobilização do PT, Francisco Campos. "Isso está errado. Não há imperativo em política."

Mesmo sem se dizer candidato, Tarso participou ontem de seu primeiro ato de campanha. Assistiu à apresentação da peça Horácio, de Heiner Müller, com Celso Frateschi, encenada em apoio a Paulo Frateschi, que tenta a reeleição no diretório de São Paulo e Tarso. Em discurso, ele destacou que o PT resguardará o "direito de defesa" de cada acusado.