Título: Israel remove última colônia de Gaza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Internacional, p. A14

GAZA - Israel removeu ontem o último assentamento judaico da Faixa de Gaza, pondo fim a 38 anos de colonização desse território árabe ocupado na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Desde o início da operação de retirada, oito dias antes, foram desmanteladas as 21 colônias e removidos 8.500 judeus que viviam nesses enclaves superprotegidos pelo Exército, em meio a 1,4 milhão de palestinos. A última colônia, retirada ontem, foi Netzarim, povoado de 500 pessoas isolado no centro do território e a poucos quilômetros da cidade de Gaza. "Neste momento não há mais assentamentos judaicos na Faixa de Gaza. Os únicos israelenses que permanecem são das forças de segurança", anunciou o general Dan Harel, encarregado da retirada. Na realidade, uma família (casal e 11 filhos) ficará até hoje de manhã porque perdeu o último ônibus que levou os colonos a Jerusalém. Harel espera que a entrega do controle do território à Autoridade Palestina seja em outubro, depois da demolição das casas e desde que não haja violência. A retirada dos colonos terminou duas semanas antes do previsto.

Esta é a primeira vez que Israel desocupa integralmente um território que os palestinos querem tornar parte de seu Estado. O esvaziamento de Netzarim foi pacífico porque o rabino local convenceu as famílias a não resistir. Na noite de domingo moradores pediram que a polícia prendesse três infiltrados que haviam pichado muros com inscrições como "Sharon, Hitler está orgulhoso de você".

Por sua localização, Netzarim foi um dos principais alvos de ataques dos grupos palestinos durante a segunda intifada, iniciada em setembro de 2000. Foi nas imediações da colônia que morreu em 2000 o menino Mohammed Dura, de 12 anos, cujo pai tentou protegê-lo com o corpo em meio a um tiroteio entre soldados e militantes palestinos. O menino se tornou um símbolo da luta palestina.

A colônia também se tornou referência na mídia por causa de uma frase do primeiro-ministro Ariel Sharon, um dos promotores da colonização judaica nas terras ocupadas. "O destino de Netzarim será o destino de Tel-Aviv", declarara Sharon, meses antes de elaborar, em 2004, o plano de retirada.

Pouco depois do anúncio do general Harel, Mahmud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, telefonou a Sharon e os dois concordaram em reunir-se em breve. Segundo um comunicado do governo israelense, Abbas cumprimentou Sharon e definiu a retirada como "decisão histórica e corajosa". O presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou que agora a paz está ao alcance na Terra Santa.

HAMAS

Abbas disse ontem em Gaza que espera convencer os palestinos de que o diálogo é o caminho para seu Estado. Ele tem repetido essa mensagem em aparições públicas, na tentativa de se impor sobre o grupo Hamas - que proclama que a luta armada expulsou Israel de Gaza e disputa poder com a Fatah, facção de Abbas. "O Hamas tem uma missão. Quer islamizar o Estado e a sociedade. Sim, no final das contas, quer o poder", disse o parlamentar e cientista político palestino Ziad Abu Amr ao New York Times.

Ontem o Hamas reuniu cerca de 10 mil pessoas em Gaza para celebrar a saída dos colonos e publicou em seu site na internet um balanço dos ataques na intifada no território, citando como fonte o Exército de Israel e se vangloriando de estar no topo da lista. O grupo é responsável pelos atentados suicidas com mais vítimas dentro de Israel, mas a agência Associated Press ressalvou não ter confirmado se o balanço do Hamas para a Faixa de Gaza provém de fonte israelense.