Título: Volatilidade afeta venda de títulos do governo
Autor: Patrícia Campos Mello e Silvana Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

BRASÍLIA - Após quase quatro meses de crise política, o coordenador da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Paulo Valle, reconheceu ontem que desde a última semana de julho os "momentos de volatilidade" do mercado financeiro têm afetado as vendas de títulos públicos do governo. Valle frisou, no entanto, que isso não preocupa, porque o Tesouro tem reservas suficientes para enfrentar um período mais difícil sem afetar a administração da dívida mobiliária. Em julho, a dívida em títulos públicos do governo subiu R$ 10,16 bilhões em relação ao mês anterior, atingindo R$ 915,67 bilhões. O principal fator para a alta é o impacto dos juros básicos (Selic), que há três meses estão em 19,75% ao ano.

Valle evitou comentários mais detalhados, mas avaliou que ontem o mercado financeiro "reagiu muito bem" às declarações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no domingo, negando as acusações do seu ex-assessor Rogério Buratti.

Na última semana de julho, o Tesouro reduziu os volumes de papéis ofertados nos leilões. Naquele momento, o agravamento da crise política e as repercussões da desvalorização da moeda chinesa provocaram turbulências no mercado financeiro.

Segundo Valle, a opção do Tesouro em momentos como este é ser mais cauteloso e "ajustar" a oferta de títulos. "Desde a última semana de julho, houve sim uma volatilidade no mercado, que tem um efeito (sobre as vendas de títulos), mas não prejudicou o cronograma dos nossos leilões", afirmou Valle.

De acordo com o técnico, em agosto o planejamento é fazer ofertas de papéis até o limite de R$ 35 bilhões, que cobrirão com sobra os vencimentos de R$ 28 bilhões em títulos no mês. Porém, até semana passada as colocações estavam acumuladas em R$ 14 bilhões. Segundo Valle, o volume de títulos vendidos nos leilões está reduzido este mês. "Apesar disso, estamos confortáveis na administração da dívida", ressaltou o técnico, sem revelar o montante de que dispõe o Tesouro. Ele diz que de janeiro a julho o Tesouro já conseguiu financiar 109% do endividamento mobiliário.

Apesar de a crise política ter se intensificado em julho, Valle destacou que houve "grande demanda" dos investidores por títulos prefixados. Porém, houve uma pequena redução da participação desses títulos na composição da dívida, de 22,95% para 22,37%. O Tesouro considerou a queda normal, pois julho concentra vencimentos de papéis prefixados.

Também como resultado da sazonalidade do mês, os títulos atrelados à taxa Selic elevaram a participação de 57,1% para 57,9% da dívida. Houve ainda maior participação dos títulos corrigidos pelo câmbio, de 4,12% para 4,15%. Segundo o técnico do Tesouro, o movimento reflete a desvalorização de 1,7% do real em relação ao dólar entre o fim de junho e julho.

O prazo médio de vencimento da dívida total no mês passado teve pequeno aumento, de 27,1 meses em junho para 27,6 meses. Segundo Valle, em crises passadas o Tesouro só conseguia vender títulos com dois a três meses de vencimento, mas agora tem conseguido vender papéis de mais longo prazo.