Título: Dólar tem maior queda em 2 anos
Autor: Patrícia Campos Mello e Silvana Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Reagindo positivamente à entrevista de domingo do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o mercado financeiro se acalmou ontem e o dólar fechou em queda de 2,65% - a maior em dois anos e meio. A moeda americana encerrou o dia cotada em R$ 2,385. O dólar não caía tanto em um só dia desde 6 de janeiro de 2003. A Bovespa também teve um dia muito positivo, com alta de 2,32%, e o risco país recuou 2,86%, para 407 pontos. Na sexta-feira, o mercado havia surtado com as acusações de Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. Buratti acusou Palocci de receber propina de uma empreiteira. No domingo, o ministro deu entrevista coletiva na qual se defendeu com veemência das denúncias.

"A percepção de que há um compromisso do governo em preservar a atual política econômica, seja qual for o desfecho da crise política, parece ter se fortalecido com as declarações de Palocci. É isso que deu ânimo novo ao mercado hoje", comentou um operador.

Para alguns analistas, não se trata de convencer ou não. Eles acreditam que o mercado está otimista, não importa o que aconteça. "Todo mundo quer acreditar (na defesa de Palocci)", disse Mário Mesquita, economista-chefe do ABN Amro.

Jason Vieira, economista da GRC Visão, diz que a correção do mercado ontem não significa, necessariamente, que os investidores acreditam na inocência de Palocci. "O investidor está ignorando a crise por causa da enorme liquidez mundial." Com as taxas de juros mundiais em níveis historicamente baixos, os investidores preferem ignorar a crise e manter seu dinheiro investido no Brasil, que dá altíssimo retorno. "Os estrangeiros, particularmente, continuam apostando no País", diz Mesquita.

Outros fatores positivos contribuíram para o bom desempenho do mercado ontem: a desaceleração da alta do petróleo e as declarações do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que elevou a expectativa sobre o PIB e a balança comercial de 2005.

Apesar da correção, investidores continuam cautelosos. Amanhã, Buratti vai depor na CPI dos Bingos. "A crise não vai sumir nesta semana", diz Mesquita. "Buratti vai depor e podem surgir novas denúncias, podem convocar Palocci."

EXTERIOR

Os investidores estrangeiros mantiveram o sangue frio. Como assinalou um estrategista de um banco espanhol, o mercado "vem tapando um olho para os riscos da crise brasileira e usando uma lupa para os aspectos positivos do País".

Mas uma corrente de analistas observa que a longa efervescência nos mercados da dívida de emergentes começa a dar sinais de exaustão. "Se a coisa virar aqui fora, o pessoal vai começar a usar lupa para analisar a crise brasileira; e aí a coisa pode ficar mais feia", diz o estrategista.