Título: Para Mantega, Palocci 'desmontou a armadilha'
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

RIO - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) partiu ontem em defesa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Segundo Mantega, Palocci foi "muito autêntico, muito eficiente em desmontar esta verdadeira armadilha que foi montada contra ele e isso não abalou a confiança que existe hoje na economia brasileira". Para Mantega, o episódio serviu para mostrar que a economia está num "nível de maturidade impressionante" e também deixou claro que "independentemente de quem ocupa a Fazenda a política é do presidente Lula e, portanto, é esta política econômica que vai continuar". As avaliações foram feitas após apresentação em evento sobre o Rio.

Mantega, que vem questionando aspectos da economia, como os juros altos e a elevação do superávit primário, usou grande parte do tempo da sua exposição para destacar os pontos positivos da economia. "É uma política vitoriosa. Foi o que tentei demonstrar aqui. Nunca se reuniram condições tão favoráveis para o crescimento sustentado", afirmou, estimando um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% a 4% para 2005 e de 4,5% a 5% para 2006.

"Isso (as condições favoráveis) se deve em grande parte à política econômica deste governo, chefiada pelo ministro Palocci. Então o ministro Palocci tem muitos méritos, tem de ser reconhecido. Ele não pode ser jogado às feras por uma declaração sem fundamento de uma pessoa que certamente devia estar sob pressão psicológica muito forte. É preciso mais seriedade", declarou.

Junto à defesa da política econômica, Mantega comparou pelo menos duas vezes o desempenho do atual governo com o anterior. Num dos quadros apresentados, registrou que houve déficit em conta corrente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, mas superávit no atual. Disse também que, enquanto atualmente estão sendo criados 100 mil empregos ao mês, "na gestão do governo anterior a média de criação de empregos era de 10 mil, 12 mil".

Apesar da defesa da política, ele voltou a indicar que a inflação em baixa abre espaço para redução da taxa Selic, que deverá ocorrer nos próximos meses, "a critério dos membros do Copom". Explicou, contudo, que é preciso ficar atento, porque a inflação não é estática. Em tom de brincadeira, comentou: "Quando ela sobe, evidentemente o pessoal do Banco Central (BC) fica mais nervoso e aí começa a fazer aquelas 'maldades' que nós todos não gostamos, mas que são necessárias para que a economia possa crescer com certo equilíbrio".

Para Mantega, a taxa Selic incide apenas sobre uma parte do crédito e não sobre todo o financiamento no País. Ele explicou que o BNDES, por exemplo, cujos financiamentos são balizados pela taxa de juros de longo prazo (TJLP), responde por 29,9% do crédito no País. O restante se divide em 14,2% para moeda estrangeira, 35% de crédito livre, 17% rural, e 4,3% leasing. Com base nestes dados, ele afirma que, apesar de estar alta, a Selic não inibe o crescimento no Brasil.

SIDERURGIA

O BNDES poderá entrar com sócio na usina siderúrgica que a alemã Thyssen Krupp planeja montar no Rio, em parceria com a Companhia Vale do Rio Doce, que será minoritária no empreendimento. A possibilidade foi admitida ontem pelo presidente do banco. Mantega ressaltou, contudo, que as negociações estão em aberto e não há definição sobre o possível apoio do banco. O valor do projeto, segundo o banco, é de US$ 2,5 bilhões.