Título: Criação de empregos pode cair a zero até novembro, diz Ciesp
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. B5

A criação de empregos na indústria paulista poderá cair a zero entre outubro e novembro, avalia o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Com base em sua pesquisa mensal de emprego, a entidade afirma que os juros altos e o câmbio baixo continuam criando um cenário de desestímulo a novas contratações, que tende a se agravar nos próximos meses. A pesquisa do Ciesp mostrou que, apesar de ainda se manter em alta, o emprego na indústria paulista mostrou desaceleração em julho. No mês, foram criadas 3.537 vagas, 0,18% mais que no mês anterior. Essa alta, porém, é inferior ao 0,54% de julho de 20004, quando surgiram 9.981 vagas.

O cenário é semelhante, se considerado o período de janeiro a julho. Este ano, foram abertas 46.597 vagas até julho, 2,4% mais que no mesmo período do ano anterior. No entanto, a comparação entre 2004 e 2003 trazia um avanço de 3,74%, com a criação de 68.027 vagas.

A situação é melhor se considerados os 12 meses até julho, em que surgiram 72.192 novos empregos, uma alta de 3,68%, superior até aos 3,33% do período de janeiro a julho de 2004. Mas, segundo o Ciesp, essa melhora ainda reflete, em parte, o desempenho positivo do segundo semestre de 2004. A expectativa é que o quadro se reverta nos próximos meses. Segundo a entidade, a prova disso é que nos 12 meses de 2004 o crescimento do emprego foi de 5,02%.

"Se a política macroeconômica continuar com as mesmas condições que vêm desde setembro de 2004, poderemos chegar ao nível zero - com emprego igual ao desemprego - por volta de outubro ou novembro", afirmou o diretor do Departamento de Economia (Decon) do Ciesp, Boris Tabacof, acrescentando que os números indicam um movimento "preocupante".

REGIÕES

Segundo o Ciesp, as regiões que mais contribuíram para a geração de empregos em julho estão relacionadas aos alimentos, que tiveram desempenho positivo no mês. Nesse caso se enquadram os municípios de Matão (com variação positiva de 2,26% no emprego), Rio Claro (1,64%) e Presidente Prudente (1,18%). As regiões com o pior resultado estão ligadas ao setor de máquinas e equipamentos, como Jaú (-1,01%), Jundiaí (-0,87%) e São Carlos (-0,64).

Para outro diretor do Decon, Geraldo Quevedo, esses dados ajudam a fortalecer uma perspectiva de queda no nível de emprego, por mostrar que investimentos em máquinas e equipamentos estão sendo adiados. "A indústria já começa a dar sinais claros de que caminhamos para um período, no segundo semestre, de crescimento abaixo das expectativas", afirmou Quevedo.

Tabacof disse ainda que começa a se manifestar na indústria um clima de preocupação com a manutenção da política de juros altos, em decorrência da crise política. "O que preocupa a indústria é que as dificuldades políticas sirvam de pretexto para evitar um desafogo da política monetária", afirmou.