Título: Edemar na Justiça Federal: 'sou inocente'
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

O ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira passou ontem quatro horas no Tribunal Regional Federal de São Paulo tentando convencer o juiz Fausto Martin de Santis, da 6.ª Vara Criminal, de que é inocente. Edemar, antigo dono do Banco Santos, é acusado de formação de quadrilha, gestão fraudulenta de instituição financeira, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e manutenção ilegal de conta no exterior. O Banco Central decretou intervenção no Santos em novembro de 2004 e o banco foi liquidado em maio, com um rombo de R$ 2,236 bilhões. Nas investigações descobriu-se que o banco estava atolado num lodaçal de irregularidades. O ex-banqueiro, que ganhou fama como mecenas e patrono de grandes exposições de arte, chegou ao tribunal às 11h, acompanhado dos advogados Arnaldo Malheiros Filho e Ricardo Tepedino. Edemar carregava uma pasta de plástico repleta de papéis. De acordo com Malheiros, tratava-se de seu roteiro de defesa. O conteúdo do depoimento não foi divulgado, uma vez que o processo corre sob sigilo de justiça. Segundo o advogado, "foi um bom depoimento, ele pôde apresentar todos os seus argumentos com calma e tranqüilidade". Além de Edemar, seu filho, Rodrigo Rodrigues de Cid Ferreira, diretor do banco, também foi interrogado..

Pouco antes de o depoimento começar, Edemar e Malheiros desagradaram alguns advogados de outros réus que pretendiam acompanhar o interrogatório do banqueiro. Além de Edemar e do filho, outros 17 diretores do banco são acusados no processo. Os dois pediram ao juiz de Santis que impedisse a participação dos advogados dos outros réus, argumentando que Edemar poderia ser prejudicado se os outros réus pudessem preparar defesa conhecendo seu depoimento. "Há versões conflitantes entre os réus e muitos alegam que agiram por obediência devida", disse Malheiros. O juiz, no entanto, decidiu que depois do depoimento, os advogados poderiam ler as declarações de Edemar.

O processo que apura a responsabilidade sobre a quebra do Santos deve ser longo. São mais de 150 volumes de documentos. Os interrogatórios podem envolver mais de uma centena de depoentes, uma vez que cada um dos 19 acusados tem o direito a indicar 8 testemunhas de defesa. O Ministério Público Federal, representado pelo procurador Silvio Luiz Martins de Oliveira, também tem direito a indicar oito testemunhas. Caso seja condenado à pena mínima , Edemar pode ser condenado a sete anos de prisão. Pela pena máxima pode pegar até 25 anos.