Título: Palocci nega denúncias e põe cargo à disposição, mas fica a pedido de Lula
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve Antonio Palocci no Ministério da Fazenda. Acusado pelo ex-assessor Rogério Buratti de participar de um suposto esquema de corrupção na prefeitura de Ribeirão Preto (SP), pelo qual receberia R$ 50 mil mensais, Palocci colocou o seu cargo à disposição, na manhã de ontem, ao conversar por telefone com o presidente. Palocci argumentou que não se considera insubstituível e sua saída do governo não abalaria os fundamentos nem os rumos da economia. Em seguida, durante 2h10 de entrevista, negou enfaticamente todas as acusações que sofrera e alertou para o fato de que o suposto germe do esquema na prefeitura - a licitação para coleta de lixo, de R$ 50 milhões - fora concluído na gestão anterior à sua.

"Quero negar categoricamente, com veemência (as acusações). Elas merecem ser negadas porque são falsas", afirmou Palocci. "Não temo o porvir nem o que está colocado sobre a mesa. Estou tranqüilo porque sei o que eu fiz e o que não fiz. Pessoas como eu passam, mas as políticas ficam. Meu cargo pertence ao presidente Lula, que não quis a minha saída. Mas ninguém é insubstituível."

Palocci manteve-se calmo e centrado durante a entrevista. Afirmou ser o maior interessado no esclarecimento "cabal" das denúncias e disparou contra a "indiscrição" do Ministério Público paulista, pelo fato de os procuradores que tomaram o depoimento de Buratti terem divulgado trechos, antes de sua conclusão, e distribuído depois a gravação integral.

O ministro mostrou-se indignado com a notícia de que teria atendido a apelos de Buratti para receber empresários em seu gabinete e de que teria montado uma "República de Ribeirão" em Brasília, ao montar sua equipe com nove colaboradores trazidos de sua cidade.

Considerou "surpreendentes" e "absurdas" informações de que teria ordenado a seu chefe de gabinete, Juscelino Dourado, a compra de um aparelho de escuta telefônica. Com humor, o médico sanitarista declarou que o único aparelho desse tipo que possui é um estetoscópio.

SIGILO

Segundo o ministro, Lula decidiu mantê-lo no posto por considerar as denúncias "insuficientes". Ele se mostrou disposto a apresentar esclarecimentos "quando o Congresso desejar" e a abrir seu sigilo fiscal, bancário e telefônico. "Não será preciso pedir à Justiça. Mas não vou fazer panfletagem dos meus dados."

Palocci afirmou não considerar Buratti como amigo desde que o afastou da Secretaria de Governo de Ribeirão, em 1994, nem como inimigo, após as denúncias. Nos últimos anos, relatou, as famílias visitaram-se uma a duas vezes. Ele teria conversado com Buratti pela última vez em 2003. Alegou que não se lembrava de nenhum telefonema após a meia-noite e acrescentou que não tem negócios "com ninguém".

"Quando afirmei que negava (as acusações), nego em todos os seus aspectos. Não estou fazendo jogo de palavras", insistiu o ministro. "Algum procedimento pode ter acontecido. Mas esse esquema, ao longo de dois anos, não teria ocorrido sem que nenhuma das partes, na prefeitura ou no PT, tivesse me informado. Não ocorreram."

A mesma lógica, para Palocci, serviria para afastar dúvidas de que Lula saberia do esquema do mensalão. "Estive com ele em todos os momentos. Hipoteticamente, um ou outro evento pode acontecer. Mas coisas sistemáticas e permanentes, não acredito que ocorreriam com o seu conhecimento."