Título: Para oposição, explicações convencem e acalmam mercado
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - Lideranças dos partidos de oposição consideraram satisfatórias as declarações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para acalmar o mercado e não deixar que as acusações feitas por Rogério Buratti, seu ex-assessor na prefeitura de Ribeirão Preto, afetem a economia. Os oposicionistas defenderam, no entanto, a continuidade das investigações sobre as acusações feitas por Buratti que, em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, disse que o ministro recebia R$ 50 mil por mês de empresa de lixo em troca de favorecimento em licitação. E descartaram a convocação de Palocci para se explicar na CPI dos Bingos, depois do depoimento de Buratti previsto para quarta-feira. ¿Ele (Palocci) se portou de forma correta e deu explicações razoáveis quando, por exemplo, aborda o seu relacionamento mais recente com o Buratti. Mas ele tem de ir à CPI dos Bingos para esclarecer e informar o que ele sabia sobre os contratos com Caixa Econômica Federal¿, disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP). ¿Ele (Palocci) procurou colocar todo o assunto na base da economia. Mas não é só sob esse aspecto que surgiram as denúncias. As denúncias não partiram da oposição e sim de um filiado do PT, que privava da intimidade do ministro. As investigações devem prosseguir¿, afirmou o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Para o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), o ministro Palocci deu uma resposta ao mercado ao confirmar que permanecerá no cargo e dará continuidade à política econômica.

¿Para o mercado, o discurso dele (Palocci) foi convincente; para a sociedade, não¿, disse. O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que o ministro foi ¿veemente ao negar qualquer envolvimento nas denúncias, mas não foi convincente¿. ¿Ele apenas interrompeu o processo catastrófico que estava em curso¿, resumiu. Em nota distribuída à imprensa, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o ministro Palocci ¿agiu com correção ao se expor frontalmente diante da Nação¿.

Argumentou que o ¿tom e a forma¿ escolhidos por Palocci ¿deixam mal o presidente Lula, que se refugia em comícios para não se explicar ao País, bem como as dezenas de acusados no governo e no PT, que se têm vergonhosamente refugiado no estatuto do silêncio e nas tergiversações¿.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), o ministro Palocci foi ¿extremamente sereno, convincente e elegante¿ ao se explicar ontem. Mas observou que, caso apareçam provas documentais fortes, o ministro tem de ser afastado do governo. O ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) comentou ontem, por intermédio de sua assessoria, que a entrevista de Palocci foi ¿perfeitamente esclarecedora¿. Dirceu aproveitou para criticar a ¿onda de denuncismo¿, na qual pessoas acusadas de praticar ilegalidades lançam acusações sem provas contra autoridades do governo e ganham repercussão na mídia. Na sua avaliação, essa situação inverte o ônus da prova e confronta o Estado de Direito.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, elogiou as declarações de Palocci. ¿O ministro fez o que o presidente Lula já deveria ter feito há muito tempo: falou diretamente à Nação, sem subterfúgios, desmentindo com veemência as acusações¿, disse Busato, em nota distribuída à imprensa. ¿É claro que o assunto não está esgotado, já que o acusador, Rogério Buratti, por mais que se queira desqualificá-lo, privou durante anos da intimidade profissional e pessoal do acusado. Falou com conhecimento de causa. Somente as investigações podem dar a última palavra. Mas o ministro fez a sua parte¿, observou.