Título: Ex-assessor de Palocci é preso por formação de quadrilha
Autor: Brás HenriqueGustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A4

RIBEIRÃO PRETO - O advogado Rogério Tadeu Buratti, ex-secretário de Governo de Ribeirão Preto durante a gestão do então prefeito e hoje ministro Antonio Palocci, foi preso ontem à tarde por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O mandado de prisão temporária, por cinco dias, prorrogável por mais cinco, foi entregue por promotores do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) após depoimento de Buratti ao delegado-seccional Benedito Antônio Valencise sofre fraudes em licitações de lixo. A prisão, porém, foi decretada em outro inquérito, aberto ontem, para apurar a compra de fazendas e empresas de ônibus. Grampos telefônicos indicaram o risco de destruição de provas, o que levou à prisão do advogado. Pelas mesmas acusações, também foi detido o corretor de imóveis Claudinet Mauad, de São Joaquim da Barra, no interior paulista.

Os dois foram levados ao Centro de Detenção Provisória (CDP), de Ribeirão Preto, e devem ser ouvidos hoje.

O telefone de Mauad está sendo monitorado desde o início do mês, mas só nos últimos dias surgiram as provas de que os documentos poderiam ser destruídos. No inquérito também foi anexada documentação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda.

Na segunda-feira, os promotores, munidos de mandado de busca e apreensão, foram à casa de Mauad e apreenderam vários documentos, como contratos de compra e venda e escritura pública de fazendas. Esses documentos indicam que Buratti comprou três fazendas nos últimos dois anos e, recentemente, duas empresas de ônibus - ambas com o nome Expresso Fadel, nas cidades de Rancharia e Presidente Venceslau.

Segundo o promotor Aroldo Costa Filho, a primeira fazenda, em Ituverava, foi comprada por R$ 280 mil; depois trocada por outra, em Pedregulho, no valor de R$ 600 mil, e finalmente negociada por outra em Buritizeiro (MG), por cerca de R$ 1,2 milhão. Na última negociação, a área foi trocada, com a participação de Mauad na transação, pelas empresas de ônibus, no valor de R$ 2,6 milhões. Os promotores suspeitam que os valores foram superfaturados.

GRAMPO

"Doutor, está cheio de policial aqui na minha casa. O que eu faço?", disse Mauad a Buratti, na segunda-feira, quando os promotores foram à sua casa. É o que revelam as interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. "Corra lá e destrói tudo", retrucou o advogado.

Em outro telefonema, Mauad advertiu: "Não deu tempo e os homens pegaram tudo." E Buratti reagiu, desesperado: "Nossa, minha nossa..."

O promotor Costa Filho não tem dúvida de lavagem de dinheiro envolvendo Buratti. "Numa empresa de ônibus é muito mais fácil (conseguir dinheiro) e fazer contratos do que em uma fazenda e para fiscalizar é mais difícil, pois não tem nada legalizado", disse ele, lembrando que os documentos apontam que as propriedades estavam em nome de Buratti e da ex-mulher Elza. A Mauad seria pago, de acordo com os grampos, R$ 120 mil. O valor seria entregue ontem, em dinheiro vivo.

O Gaerco investiga ainda as participações de outras pessoas no suposto esquema, que também poderão ter a prisão decretada pela Justiça. Foi essa suspeita que deu fundamento ao pedido de prisão temporária por formação de quadrilha.

Segundo promotores, Buratti disse, ao depor no inquérito do lixo, que tem patrimônio de R$ 1,2 milhão - uma casa, dois carros, a fazenda de Buritizeiro e as empresas de ônibus.

SORRIDENTE

O próprio Buratti, após ouvir o mandado de prisão, informou que ainda tem a fazenda de Buritizeiro e que as empresas de ônibus não estão em seu nome.

O advogado dele, Roberto Telhada, considerou a prisão "desnecessária, um exagero", e disse que o patrimônio de seu cliente está "em torno de R$ 1 milhão e alguma coisa".

Telhada informou que não tinha conhecimento do teor do pedido de prisão e que pedirá hoje habeas-corpus para o cliente.

Buratti chegou antes do horário marcado para o seu depoimento, dirigindo um Honda Civic, sorridente e brincando com os jornalistas. Avisou que falaria depois do depoimento ao delegado, mas deixou a delegacia algemado e cabisbaixo.

Antes de ser levado, Buratti disse apensas: "Acho que foi injusta a prisão, mas enfim..."

Durante o depoimento de ontem ao delegado Benedito Valencise, pouco antes de ser preso, Buratti também foi indiciado por formação de quadrilha e sonegação fiscal no inquérito do lixo. De acordo com o delegado, o advogado não confessou diretamente os crimes, mas admitiu-os indiretamente.