Título: Antes da prisão, Toninho da Barcelona tinha um império no mercado paralelo
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Antonio Oliveira Claramunt. o Toninho da Barcelona, comandou um império do mercado paralelo do dólar sob a fachada de uma empresa legalmente constituída, a Barcelona Tur. Eram 4 endereços situados na Avenida São Luiz, Centro de São Paulo, território dos grandes doleiros. Amigo de policiais e de magistrados, ele nunca foi molestado - até que o Ministério Público Federal decidiu investigá-lo. Coube ao juiz federal Sérgio Fernando Moro, que preside processos sobre lavagem de dinheiro e evasão de divisas, interromper a ação de Barcelona. Moro condenou o doleiro a 9 anos de prisão e mandou prendê-lo, em agosto de 2004. Além dessa condenação, Barcelona pegou outras duas, uma de 10 anos imposta pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis, de São Paulo, e outra de 6 anos, aplicada pela Justiça de Cascavel (PR). Seu advogado, o criminalista Ricardo Sayeg, não aceita as condenações. "Toninho foi condenado em 3 processos sob uma mesma acusação."

Filho de uma família modesta do bairro do Limão, Barcelona operava como doleiro havia muitos anos. No início de 2003, o procurador da República Silvio Luiz Martins de Oliveira coordenou ofensiva contra Barcelona, fechou suas lojas, apreendeu documentos, computadores e valores. A contabilidade paralela do doleiro revelou que ele trabalhava para agentes da Polícia Federal. O ex-superintendente regional da PF em São Paulo, delegado Francisco Baltazar, adquiriu US$ 134 mil de Barcelona. O delegado, que fez a escolta de Lula nas quatro campanhas à Presidência, declarou tudo ao Fisco.

Quando teve sua prisão decretada, Barcelona foi alertado por um federal - mas acabou aprisionado pela Operação Beacon Hill - missão integrada da PF com a Procuradoria da República. Extratos bancários que os Estados Unidos enviaram ao Brasil revelam que ele abriu em Nova York as contas Lisco Overseas e Miro, mantidas na conta-ônibus Beacon Hill, do J.P. Chase Morgan. Barcelona movimentou US$ 191,69 milhões na Lisco e US$ 5, 26 milhões na Miro, entre 1997 e 1999.

Barcelona tinha outras contas no exterior. No Brasil, ele utilizava conta em nome da laranja Sierra Factoring, com depósitos identificados de R$ 14, 053 milhões em outras contas laranjas de Foz do Iguaçu.