Título: CPI só convocará doleiro se ele apresentar provas
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Se não apresentar provas à Justiça do envolvimento de integrantes do PT e do governo na emissão de dinheiro para o exterior, o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, não vai depor na CPI dos Correios. O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e até parlamentares da oposição são contra a convocação imediata do doleiro, preso na penitenciária de Avaré, em São Paulo.

Em depoimento informal a 12 membros da CPI na terça-feira, Toninho da Barcelona disse conhecer operações de remessas de dinheiro feitas pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelo ex-ministro José Dirceu.

Para Delcídio, a convocação do ministro e de Meirelles, que chegou a ser cogitada por alguns oposicionistas, é "bizarra". "É uma insensatez. Não podemos sair atirando para todos os lados, começar a conturbar violentamente o País. Convocar todo mundo é bizarro, bisonho. De uma hora para outra, viram condenados", protestou o presidente da CPI.

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), porém, acha que Meirelles deve ser ouvido pela comissão. "Thomaz Bastos foi o único que reagiu de forma correta, deu uma resposta forte o bastante", disse ACM Neto.

Em nota divulgada no mesmo dia das denúncias do doleiro, Thomaz Bastos disse que fez remessas legais em 1995 e que em 2002 trouxe as aplicações de volta ao Brasil, operação que o fez pagar mais de R$ 1 milhão à Receita Federal, segundo o ministro.

Toninho da Barcelona disse que apresentará provas das denúncias e revelará o esquema de remessas ilegais se obtiver da Justiça o benefício da delação premiada, com redução da pena. Ele foi condenado a 25 anos de prisão.

Os deputados tucanos Eduardo Paes (RJ) e Gustavo Fruet (PR) dizem que o doleiro só deve ser ouvido pela CPI se antes apresentar provas ao Ministério Público. "Se for para falar o que ele disse ontem (terça-feira), nós já o ouvimos. Não vamos ficar ouvindo bandido que quer redução da pena. Ele tem que comprovar o que disse. Se ele não fizer acordo com a Procuradoria, não vale a pena convocar", disse Paes.

O senador pefelista César Borges (BA) e ACM Neto defenderam a convocação imediata de Toninho. "Ele pode não apresentar provas, mas dar pistas", disse o senador.

No PFL, a convocação do doleiro não é consenso. Também integrante da CPI, o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) disse que "é preciso cautela". O parlamentar desconfiou da veracidade do depoimento quando o doleiro foi questionado sobre o policial Francisco Baltazar, chefe da segurança nas quatro campanhas de Lula. Toninho da Barcelona vendeu US$ 134 mil para Baltazar, mas disse não conhecê-lo.