Título: Discurso deve tranqüilizar mercado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2005, País, p. A4

As declarações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foram bem recebidas por analistas do mercado financeiro e representantes do setor produtivo do país. Para o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Claudio Vaz, ''hoje será um dia de festa para os mercados, haverá uma enxurrada de dólares e a Bolsa vai subir''. O economista da MCM Consultores José Júlio Senna tem a mesma opinião:

- A entrevista do ministro deve ser muito positiva nos mercados hoje - disse

Na sexta-feira, o dólar disparou, fechando em alta de 2,77%, a R$ 2,448; o risco-país, que mede a confiança do investidor estrangeiro, também piorou - subiu 3,12%, aos 419 pontos-base. Os papéis da dívida externa brasileira também perderam valor.

- Além de extremamente louvável, a atitude do ministro merece o nosso aplauso - elogiou Claudio Vaz, lembrando que Palocci é o primeiro integrante do primeiro escalão do governo envolvido nas denúncias que teve coragem de dar respostas rápidas e transparentes.

- Em vez de se esconder, ele respondeu a perguntas da imprensa durante duas horas e negou as acusações com tal clareza que não temos motivos para duvidar da palavra dele - sublinhou o presidente do Ciesp.

Ele disse ainda que Palocci teve a humildade de assegurar que a saída dele não mudaria a política econômica.

- Ele não tentou se valorizar neste momento confuso, foi capaz de admitir que é a solidez dos fundamentos macroeconômicos que garantem a continuidade das regras que estão aí - acrescentou.

No mesmo tom foi a impressão do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

- O ministro foi firme, sereno e responsável, inclusive se colocando à disposição das autoridades - lembrou.

O economista Julio Senna também acredita que as explicações dadas por Palocci foram convincentes para acalmar os agentes no front econômico.

Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, Palocci foi muito consistente.

- O ministro foi contundente ao se colocar à disposição para esclarecer qualquer questionamento e ele não deixou nenhuma pergunta sem resposta ou pontas abertas para dúvidas - declarou.

Desde o início do governo Lula, Palocci é o grande avalista da política econômica. Ao lado dos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Jaques Wagner (Coordenação Política), vem auxiliando o presidente a gerenciar a crise que já dura mais de três meses.

Embora acreditem ser esta semana decisiva para medir se os agentes econômicos continuam confiantes no futuro da economia, ao traçar cenários os analistas contabilizam outras razões que jogam a favor da chamada blindagem que tem separado crise política e mercado financeiro.

A primeira é a idéia predominante de que a troca de ministro da Fazenda não significaria uma guinada na política econômica. O mais cotado para substituir Palocci seria o atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, com credibilidade o suficiente para bancar que a política macroeconômica permaneceria intocável. Outra razão é a solidez da economia, que resiste às suspeitas lançadas sobre Palocci.

- Com um pouco de habilidade, o governo vai tirar isso de letra, a não ser que as coisas piorem muito - disse o diretor do Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida. Ele acrescenta que o País acumulou reservas para enfrentar situações como estas.

Almeida ressaltou, no entanto, a importância de o governo afastar ameaças de fuga de capitais e o risco de o dólar ultrapassar o patamar de R$ 3,50 - considerado ideal pelo setor produtivo, que reclama da defasagem do dólar ante o real.

com Marcos Seabra e Jiane Carvalho