Título: Política volta a estressar investidor
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B11

Preparando-se para depoimento que Buratti faria hoje, mas foi adiado, mercado assume posição defensiva e dólar sobe 1,05%

O mercado voltou a ficar estressado com a crise política ontem. À espera do depoimento de Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, investidores assumiram uma posição mais defensiva. O dólar encerrou o dia cotado em R$ 2,41, com alta de 1,05%, a Bovespa teve queda de 1,8% e o risco país avançou 0,73%, chegando a 413 pontos. O depoimento de Buratti na CPI dos Bingos estava programado para hoje. No final da tarde, porém, o advogado de Buratti pediu para adiar o comparecimento de seu cliente à CPI. Buratti acusou Palocci de receber propina de uma empreiteira quando era prefeito de Ribeirão Preto e prometeu fazer mais revelações em seu depoimento.

O mercado vem operando como uma gangorra. Depois de estressar na sexta-feira e ter um dia extremamente positivo na segunda, voltou a ficar pessimista ontem.

"A volatilidade veio para ficar, vamos ficar à mercê dos acontecimentos políticos", diz Rachel Fleury, economista da Tendências Consultoria Integrada. "Ninguém quer ser pego no contrapé, caso haja surpresas no depoimento de Buratti."

O depoimento do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na CPI do Mensalão, não chegou a afetar os negócios. Mas a expectativa em relação ao depoimento de Buratti foi combustível para a instabilidade. O mercado deve se acalmar hoje e amanhã, e volta a se estressar na sexta-feira, à espera de denúncias nas revistas semanais.

"Se não acontecer nada, isto é, se não houver mais denúncias ou provas, a tendência é o dólar ficar abaixo de R$ 2,40 e o risco país voltar para níveis inferiores a 400 pontos", diz Rachel.

Segundo Paulo Hermanny, economista sênior da Itaú Corretora, o clima é de cautela. Ele vê muita volatilidade no curto prazo e um cenário positivo no longo prazo, porque os indicadores da economia ainda estão muito bons.

A divulgação do IPC-S confirmou um cenário de queda da inflação, acenando para uma redução de juros em breve. A ata da reunião do Copom, que será divulgada amanhã, deve sinalizar um corte nos juros em setembro. "E o superávit comercial deve continuar robusto, já que os preços das commodities não vão cair tão cedo", diz Hermanny.