Título: CBIE quer substituir o natural pelo de botijão
Autor: Agnaldo Brito, Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

BRASÍLIA - O presidente do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, defendeu ontem a liberação do uso do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) em substituição ao gás natural e outros combustíveis para aplicações hoje proibidas por lei. O GLP é utilizado principalmente como gás de cozinha. Hoje, o uso do GLP é proibido, por exemplo, em motores de qualquer espécie, para fins automotivos (exceto empilhadeiras), em saunas e caldeiras. Na opinião de Pires, que participou do Fórum Permanente do GLP, essas proibições "são distorções de períodos anteriores de elevada dependência externa e controle de preços".

Uma das tônicas dos representantes do setor é a viabilidade do GLP como substituto do gás natural, ainda mais levando-se em conta as incertezas na Bolívia, principal fornecedor de gás natural do Brasil, e o forte aumento da demanda interna.

Anteontem, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que a estatal pode adotar medidas para desestimular o uso de gás natural de modo a priorizar o abastecimento das usinas termelétricas. "Isso abre espaço para o GLP", disse o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sérgio Bandeira de Mello.

Mello esclareceu, entretanto, que o setor de GLP não pretende competir frontalmente com o gás natural. "A nossa proposta é que seja um produto complementar do gás natural na matriz energética."

Pires ressaltou que o setor de GLP precisa de um tratamento isonômico na formação de preços, em relação ao gás natural, para se desenvolver como alternativa. Ele lembrou que o gás natural tem, por exemplo, a vantagem de não pagar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Do mesmo modo, segundo Pires, em geral o gás natural paga menos ICMS que o GLP.

O presidente do CBIE destacou que, entre 2001 e 2004, o consumo industrial de GLP caiu a uma taxa de 9% ao ano, sob influência, entre outros fatores, do preço. Outro fator alarmante, na opinião dele, é a perda de mercado do GLP para a lenha no setor residencial. Entre 2000 e 2004, a participação do GLP no consumo residencial caiu de 31% para 27%, enquanto o da lenha subiu de 32% para 38% no período. Essa substituição ocorre principalmente entre as famílias mais pobres.