Título: Mais denúncias podem surgir, diz Lula
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A10

VITÓRIA DA CONQUISTA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou ontem que não são poucos os que querem jogar dentro do Palácio do Planalto erro ou processo de corrupção. Em discurso de improviso num assentamento rural de Vitória da Conquista, cidade baiana a 510 quilômetros de Salvador, ele sugeriu que espera mais denúncias contra o governo e o PT por parte da oposição, mas nem por isso perdeu o rumo da situação política. "Sei que existem (problemas) e podem surgir muitos outros." "Sou um homem que não esqueceu de onde veio e sabe muito bem para onde vai." A uma platéia de 3 mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar, Lula relatou que, diante da crise, costuma contar até 10, por recomendação da primeira-dama, Marisa Letícia, em vez de "berrar" e perder a paciência. No mesmo dia em que o PFL pediu a investigação das contas da campanha presidencial de 2002, Lula disse que tem a consciência "limpa e tranqüila" e não teme ser investigado. "Sou mais aberto do que coração de mãe. Não tem nada mais sensível e maleável que coração de mãe, e não haverá nada de nossa parte que não possa favorecer qualquer investigação."

No discurso de 34 minutos, ele voltou a defender punição para os culpados pelas práticas ilícitas, mas se posicionou contrário aos que pedem julgamentos injustos contra inocentes, com "abuso de poder e desordem". "Sou um homem que crê em Deus e nunca tive nada fácil na vida. Nunca tive a certeza que ia ser fácil governar o Brasil e não ia ter problemas. Sei que existe uma crise política e os objetivos dela."

Embora tenha se exaltado pelo menos três vezes no discurso, Lula disse que "o povo não gosta de presidente que fica gritando e berrando". "Qualquer cidadão pode ficar nervoso e xingar. Mas toda vez que fico meio nervoso, a Marisa é a primeira a dizer: 'Você não pode, você é o presidente, tem que contar até 10 antes de falar'."

Lula disse que o povo quer um presidente que converse como pai e mãe conversam com o filho. Dirigindo-se a ministros, na solenidade de inauguração do sistema de eletrificação do Assentamento Amaralina, afirmou que não pode perder de vista sua trajetória política e a responsabilidade de pedir, como presidente, punição aos que erraram. "A vida inteira, eu e milhares de companheiros lutamos por justiça social e ética, valores fundamentais da família brasileira", disse. "Meu trabalho não é apenas administrar a grande política de Brasília, mas trabalhar pela harmonia e paz das famílias."

Ele disse que defende uma sociedade "exemplar", em que todos devem pagar pelos próprios erros. "Isso vale para minha casa, meu partido, meus amigos sindicalistas e o povo brasileiro", afirmou.