Título: Gritos de 'Fora Lula' tomam a Esplanada
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A14

BRASÍLIA - Um dia depois da manifestação a favor do governo, a Esplanada dos Ministérios foi ocupada por um protesto contra o presidente Lula. Durante quatro horas, os manifestantes, que em grande medida estiveram ao lado de Lula, entoaram palavras de ordem como "Fora Lula", "Lula traidor", "Lula sabia, Marcos Valério é o seu PC Farias" e "Lula, que papelão, o PT rouba do povo para pagar o mensalão". Os manifestantes se concentraram na frente da Catedral, de onde seguiram em passeata. A Polícia Militar avalia que cerca de 10 mil pessoas participaram da passeata e no ato final, na frente do Congresso, o número caiu para 5 mil ou 6 mil. Quase no fim, ativistas queimaram um boneco do presidente, com notas falsas de R$ 100 e uma faixa onde se lia "Lula traidor".

O movimento foi promovido por professores universitários, PSTU, PSOL e movimentos sociais. Também participaram PDT, PPS, PCB, e o Prona, do deputado Enéas Carneiro (SP).

Apesar dos gritos de "Fora Lula", em nenhum momento os manifestantes falaram em impeachment. Isso porque o protesto foi dominado por ativistas de ultra-esquerda, como os do PSTU, que querem todos fora: Lula, os parlamentares, o PT, o PFL e o PSDB. No discurso repetido ao longo da manifestação, eles afirmavam que "nenhum deles representa o povo".

No carro de som, o presidente do PSTU, José Maria de Almeida, disse que hoje a palavra de ordem é "Fora todos, Lula, Congresso, PT, PSDB e PFL", porque "a alternativa é um governo de trabalhadores".

A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), que falou em seguida, criticou José Maria. Disse que é mais interessante a proposta de seu partido, de um plebiscito para antecipar as eleições de presidente da República e para o Congresso. "O povo é que vai tirar o Lula e esse Congresso apodrecido do poder." O PSOL deixou claro que não reconhece a legitimidade do Congresso. "Quem vai julgar o Lula? O Dirceu? Os deputados do mensalão?", perguntou o ex-deputado Milton Temer (RJ), que trocou o PT pelo PSOL.

BAGUNÇA

O protesto foi marcado por disputas. Já no início da marcha, Marco Antonio, da Liga Bolchevista Internacionalista, pediu a exclusão do PDT e do PPS, por terem sido da base do governo. Sua proposta foi ignorada.

O Movimento Anarquista, que não fora convidado, se apossou da dianteira da marcha e provocou confusão, porque tapou a grande faixa vermelha preparada pelo PSTU para servir de abre-alas. Vários anarquistas carregavam vasilhas de cachaça e bebiam no gargalo.

Ao lado deles, o servidor aposentado Campos Velho, famoso agitador do carnaval de Brasília, erguia um estandarte do Pacotão, bloco conhecido pelas críticas a governos desde a ditadura. Ele irritou José Maria, que tentava organizar a comissão de frente, pois gritava bem alto, acompanhado em coro pelos anarquistas: "O ovo frito jamais será cozido." José Maria pediu a um segurança que o tirasse da frente da faixa do PSTU. A reação veio logo: "Stalinista, stalinista", gritava Campos.

Foram destacados 2 mil policiais para acompanhar o ato, mas não houve incidentes. Com o sol a pino, vários manifestantes invadiram o espelho d'água do Congresso - alguns até tiraram as roupas - e jogaram água nos coturnos dos policiais, que permaneceram impassíveis.