Título: CNBB encerra reunião e rejeita impeachment
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A14

INDAIATUBA - O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal d. Geraldo Majella Agnelo, declarou ontem, no encerramento da 43.ª Assembléia-Geral do episcopado em Itaici (SP), município de Indaiatuba, que a Igreja "não faz coro àqueles que pregam a proscrição (banimento) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva". "Queremos é que todos os problemas causados pelo mau uso do dinheiro público sejam investigados e que os responsáveis sejam obrigados a repor integralmente o que foi desviado", disse d. Geraldo. O presidente da CNBB, que é arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, insistiu nesse ponto em carta a Lula, ao responder à mensagem que ele enviou ao episcopado na abertura da assembléia.

Sem citar textualmente os termos da carta, pois a divulgação do conteúdo caberia ao Palácio do Planalto, o cardeal revelou que, além da apuração das denúncias de corrupção, pediu ao presidente que seja coerente com sua posição de católico e não assine nenhum documento que atente contra os valores da vida humana.

"Temos expressado nosso desejo de que o presidente da República apresente a verdadeira situação do País e da crise política, pois o povo quer saber", disse o cardeal da Bahia, sugerindo que Lula volte a falar em pronunciamento público, para explicar à Nação o que está ocorrendo. "Que o presidente volte a falar para dizer tudo o que desejamos ouvir dele."

O secretário-geral da CNBB, d. Odilo Scherer, bispo auxiliar de São Paulo, afirmou, na entrevista coletiva, que houve, na assembléia de Itaici, grande preocupação com a crise por causa da perda de credibilidade daqueles que têm a obrigação de governar. "É necessário restabelecer a confiança no que é bom, para que não se chegue à conclusão de que todo político é corrupto", advertiu d. Odilo.

Em discurso no plenário, na sessão de encerramento da reunião dos bispos, d. Geraldo disse que, ao divulgar a declaração Resgatar a Dignidade da Política, a CNBB deixou claras as orientações do episcopado para melhor discernimento das questões que afligem ou ameaçam a vida do povo.

"Conclamamos a todos os católicos do Brasil a assumirem corajosamente o seu direito de participação cidadã, para ajudar a sociedade brasileira a encontrar os rumos e as decisões justas", afirmou o cardeal. Votado sexta-feira, logo após a transmissão de um pronunciamento do presidente Lula pela televisão, o texto da declaração teve aprovação de quase totalidade dos bispos, com apenas três votos contra.

O documento Evangelização e profetismo: novos desafios para a missão da Igreja, sobre o tema central da assembléia de Itaici, não foi divulgado pela CNBB, porque o texto terá de ser aprovado pelo Vaticano antes de sua publicação. Dividido em cinco capítulos, o documento trata de evangelização, pluralismo religioso, inclusão social e biotecnologias.

"As recentes denúncias de corrupção e o uso indevido de recursos públicos causam revolta e indignação", afirma o texto debatido na assembléia, com a recomendação de que não deve "tardar a reforma do sistema político partidário e eleitoral que faça prevalecer a ética na política e a promoção do bem comum". Como a assembléia foi adiada por causa da morte do papa João Paulo II, os bispos atualizaram versão anterior do documento, que deveria ter sido aprovado em abril.