Título: PT atende a Lula e pede desculpas
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A17

BRASÍLIA - O PT divulgou ontem resolução em que pede desculpas aos brasileiros, conforme recomendou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pronunciamento da semana passada. O texto não entra no mérito das denúncias contra ao partido e assegura que a maioria dos petistas não sabia das irregularidades: "O partido faz seu primeiro pedido de desculpas à Nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente perante os brasileiros, foram cometidos por dirigentes do PT, sem o conhecimento de suas instâncias." De modo sutil, o documento cobra do próprio Lula novas respostas à crise, além de correções de rumo na economia. A resolução, aprovada anteontem pela Executiva Nacional, também orienta todos os diretórios do PT a prepararem debates e manifestações em defesa do governo e do partido, "contra a corrupção e a impunidade", no dia 27.

O pacote de desculpas e defesa petista será reforçado no dia 30, quando irão ao ar novos comerciais do partido em rede nacional de rádio e TV. Serão 5 minutos divididos em várias inserções até o dia 2 de setembro para tratar da crise. Além disso, a metade do horário gratuito do PT em cada Estado será "confiscada" pela direção nacional. "Há um conjunto de decisões e punições que queremos dar a público", explicou o secretário de Comunicação, Humberto Costa. "Não é só lamentação e desculpa, mas o PT não pode ser julgado como um todo por erros cometidos por alguns."

A base do texto aprovado na terça-feira foi sugerida pelo presidente interino, Tarso Genro, que teve de admitir algumas alterações, em especial ao tom das críticas à política econômica. Trecho definindo o equilíbrio macroeconômico como "pressuposto para a transição em direção a um modelo de desenvolvimento" e não "um fim em si mesmo" foi removido.

Apesar das alterações, Tarso avaliou a resolução como "forte" e "importante". Boa parte da esquerda do PT, porém, tratou como "tímidas" as decisões e alertou para o risco de convocar manifestações em defesa do PT e do governo, lembrando que igual chamamento do ex-presidente Fernando Collor virou contra ele próprio, com a ida dos caras-pintadas às ruas.

"O discurso do presidente à Nação deve ser entendido como o início de um novo diálogo entre governo e sociedade civil", diz o documento. No texto, o PT mais uma vez se compromete a punir os responsáveis por irregularidades. E lembra que, para isso, criou uma comissão de sindicância interna. Nenhum nome de parlamentar ou dirigente envolvido, porém, foi mencionado.

ESQUERDA

O Bloco Parlamentar de Esquerda atacou ontem a criação da comissão de sindicância e prometeu reapresentar na próxima reunião do diretório, dia 3 de setembro, um pedido para abertura de processo na Comissão de Ética e suspensão sumária dos sete parlamentares petistas envolvidos nas denúncias de caixa 2, inclusive o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (SP). Apresentada pelo bloco com apoio de Tarso e do secretário-geral, Ricardo Berzoini, a proposta foi derrotada por 9 votos a 6, além de uma abstenção.

"A Executiva não se mostrou à altura da crise, quer apagar o incêndio com conta-gotas", reclamou o deputado Chico Alencar (PT-RJ). "O PT fez o primeiro pedido de desculpas dois meses depois do início da crise e não vem acompanhado das medidas necessárias para investigar e punir os responsáveis", afirmou o deputado Ivan Valente (SP). Para um dirigente nacional do partido ligado ao Campo Majoritário, a comissão de sindicância "não vai dar em nada".

Reunido ontem à noite, o Bloco acertou um calendário paralelo de manifestações contra a corrupção e pelo socialismo. Também avaliou sua eventual saída do PT, mas decidiu aguardar as eleições internas do partido, marcadas para 18 de setembro.