Título: Pelo terceiro mês, BC não corta juro
Autor: Gustavo Freire e Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Pelo terceiro mês seguido, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve inalterada a taxa básica de juros, a Selic, em 19,75%. A decisão não surpreendeu a maioria dos analistas, que já esperava a manutenção da Selic. Mesmo assim, muitos ficaram decepcionados porque acham que já existe espaço para uma redução. Há deflação nos preços do atacado e os preços ao consumidor estão em queda acentuada. A decisão foi unânime e sem indicação de tendência (viés). O comunicado divulgado após a reunião é idêntico ao das últimas reuniões. "Avaliando as perspectivas para a trajetória de inflação, o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 19,75%, sem viés." A Selic está em 19,75% desde maio, a maior taxa desde outubro de 2003, quando o juro estava em 20%.

Para Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o Copom tinha todos os motivos para reduzir os juros. "O BC mostrou ter uma cautela exagerada", diz. Oliveira cita motivos para a redução da taxa: "O juro real está muito alto, há deflação nos preços do atacado, os preços livres estão em queda, a indústria e o comércio estão com estoques elevados e os investimentos foram adiados."

O analista afirma que um corte de 0,25 ou 0,5 ponto porcentual, como era cogitado por parte do mercado, não faria diferença nas taxas ao consumidor. "Mas haveria o efeito psicológico: o consumidor ia ficar menos desanimado, com menos medo de perder o emprego, e iria às compras."

Guilherme Maia, economista da Tendências Consultoria Integrada, também acha que havia espaço para a redução da taxa. Mas, segundo ele, havia também motivos para a manutenção. "As expectativas de inflação ainda estão acima das metas estabelecidas para 2005 e 2006, há uma grande volatilidade no câmbio e nos preços do petróleo e passamos por um momento de estresse interno."

Para o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto, o BC "entrou numa sinuca, arrumou mais dor de cabeça do que uma solução" ao manter os juros inalterados. Segundo ele, vai ser difícil justificar a manutenção da Selic na ata do Copom, que será divulgada na próxima quinta-feira.

"Só duas variáveis poderiam justificar a decisão: o aumento do preço do petróleo e influências da crise política." O problema, diz Campos Neto, é que o cenário político e o preço do petróleo são questões que não vão se resolver até a próxima reunião do Copom. Para ele, pelo lado da inflação e dos demais fundamentos econômicos internos, a Selic já poderia ter sido reduzida. "Se formos depender de petróleo e política, vamos manter a taxa de juros no atual patamar até o final do ano."

Para Érico Sodré Quirino Ferreira, presidente da Acrefi, entidade que representa as financeiras, o único possível obstáculo para o governo atingir a meta de inflação - um reajuste dos combustíveis por causa da alta do petróleo - está descartado. "Neste momento político, duvido que a Petrobrás, comandada pelo PT, reajuste combustível."