Título: Safra 2005/2006: menor área plantada e queda de produtividade
Autor: Sonia Racy
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

Preços baixos, custos de produção elevados e uma significativa frustração de safra, por conta principalmente da seca nos Estados do Sul, indicam que o governo está perdendo o principal motor de crescimento da economia brasileira, a agricultura. De uma previsão inicial, feita pela Conab, de 131,1 milhões de toneladas, a safra 2004/2005 deve chegar, com sorte, segundo as últimas estimativas, próximo de 112 milhões de toneladas. Isso significa menos exportações, menor entrada de divisas e uma renda agrícola de cerca de R$ 23 bilhões, quase 8% abaixo da do ano passado. Pelos cálculos da MB Consultoria, capitaneada por José Carlos Mendonça de Barros, em termos nominais, a receita agrícola deve ficar em torno de R$ 56 bilhões, 22% inferior à de 2004.

De acordo com análise feita pela consultoria, a safra 2004/2005 apresentou uma agravante adicional: a queda de receita foi acompanhada por um incremento nos custos de produção. Resultado. Forte retração da margem operacional dos agricultores, que sofreram também na comercialização. Semearam a safra com uma taxa de câmbio em torno R$ 3,00 e estão comercializando o produto com o dólar entre R$ 2,30 e R$ 2,40. A exceção fica por conta dos segmentos de açúcar, álcool e café, que estão obtendo nível médio de preços acima do ano passado. "O reflexo imediato desta situação difícil para a maior parte da agricultura foi um recuo dos investimentos", diz o texto. Não por acaso, a produção de bens de capital agrícolas, de janeiro a julho deste ano, está 35% abaixo da verificada no mesmo período de 2004, de acordo com o IBGE. As vendas de fertilizantes caíram 28% considerando os seis primeiros meses.

Não se pode dizer que o Ministério da Agricultura esteja de braços cruzados ante a situação. No fim de junho, ao lançar o Plano de Safra 2005/2006, procurou atenuar esse cenário, aumentando o volume de recursos, incrementando a parcela com juros controlados e mantendo taxas de juros para as linhas de financiamento existentes. Mas isso não parece suficiente para reverter a situação rapidamente. Embora ainda não haja nenhum levantamento oficial de intenção de plantio para a safra 2005/2006, a MB espera uma redução da área plantada das principais culturas. Pior: aposta-se numa redução da produtividade por conta do menor uso de tecnologia na produção de grãos.