Título: A inflação e o petróleo nacional
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

A alta dos preços do petróleo nos mercados internacionais - ontem o barril foi cotado a US$ 63,70 - levou a Petrobrás a investir na mudança dos processos de refino, a fim de retardar o repasse para os preços dos derivados no mercado interno. Resultados positivos já foram obtidos no primeiro semestre com essa política, disse ao Estado o gerente de abastecimento da estatal, Alípio Ferreira. Investimentos de US$ 8,5 bilhões, até 2010, estão sendo feitos para adequar as refinarias brasileiras ao petróleo pesado produzido no Brasil. Já se sabia que a participação do petróleo nacional na demanda total das refinarias brasileiras havia passado de 73%, no segundo trimestre de 2004, para 81%, no trimestre passado. Agora se sabe que o custo do petróleo brasileiro para as refinarias ficou, em média, em US$ 43,04 o barril, ante US$ 51,63 (o custo médio do óleo importado). "Quando a diferença de preços entre o petróleo leve e o pesado se amplia, há um estímulo às refinadoras para processar mais óleo pesado", disse Ferreira.

Como o Brasil consome 1,8 milhão de barris de petróleo por dia, a diferença entre o custo do petróleo leve e o do petróleo pesado eleva substancialmente a margem de lucro. Segundo a estatal, a margem é de apenas US$ 1,67 por barril, no caso do petróleo importado, e de US$ 10 por barril produzido internamente.

O diretor-financeiro da empresa, Almir Barbassa, estima que a Petrobrás obteve, neste ano, um lucro 25% superior ao do mesmo período do ano passado, tornando viável manter estáveis os preços da gasolina, do diesel e do GLP.

Se a Petrobrás fosse uma companhia privada, certamente estaria cobrando mais caro pelos derivados. Se disso resultasse queda no consumo interno, a empresa exportaria os excedentes e lucraria mais.

Aparentemente, o lucro da estatal já foi mais do que satisfatório, atingindo R$ 9,95 bilhões no primeiro semestre. Mas teria sido ainda maior se a empresa tivesse por meta a maximização dos lucros simplesmente - o que lhe conferiria maior capacidade de investimento ou o fortalecimento de caixa para pagar juros menores em suas captações financeiras no mercado externo.

Tendo em vista, porém, que a margem é tida como satisfatória pela empresa, a estabilização dos preços dos derivados tem contribuído para reduzir a inflação. Esta política só tem sido possível, no entanto, porque o Brasil está alcançando a auto-suficiência em petróleo.