Título: No Congresso, até aliados do governo ficam indignados
Autor: Marcelo Rehder e Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

BRASÍLIA - A manutenção da taxa Selic em 19,75% ao ano desagradou a parlamentares da base governista e da oposição. "É uma aberração", afirmou o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP). Ele disse não se conformar com a decisão, argumentando que, num período de inflação declinante, a manutenção da taxa significa aumento do juro real. "Não há como imaginar que o País possa se desenvolver com uma taxa de juros real de 14%", afirmou Goldman. "Assim, não há investimento produtivo, só especulativo." O líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES), declarou-se decepcionado não só como aliado do governo, mas também como cidadão que quer ver o País crescer. "É uma pena, fico mais uma vez decepcionado com essa postura. O Copom só atende aos interesses do sistema financeiro", comentou.

Para o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), o Copom ficou "com medo" de ser acusado de tomar uma medida política se baixasse a Selic, mas essa cautela, segundo ele, é péssima para o País. Ele concorda com Casagrande na avaliação de que só um setor ganha com o conservadorismo do Copom. "Além do sistema financeiro, isso só favorece os doleiros", disse ele.

Governo e oposição avaliam que a decisão do Copom foi uma atitude "preventiva" contra uma eventual repercussão negativa da crise política na economia, mas a opinião dominante é que essa cautela é desnecessária porque a inflação está em queda há mais de três meses.

"O Copom é um dos exemplos de que a marcha desse governo é a insensatez de uma política econômica que é um desastre para o Brasil, que só cresceu mais que o Haiti, na América Latina", disse o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE).

De volta ao Congresso, o ex-coordenador político do governo, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi econômico no comentário. "A taxa congelou?", indagou Rebelo, em referência ao fato de que a Selic está inalterada desde maio. "Mas podia ser pior", acrescentou.