Título: Acadêmicos falam em guinada na economia
Autor: Marcelo Rehder e Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

RIO - Os juros elevados e o baixo crescimento foram fortemente criticados ontem por um grupo de acadêmicos que participou de seminário sobre a obra do economista brasileiro Celso Furtado, encerrado ontem. Eles apóiam uma guinada na política macroeconômica e uma estratégia de desenvolvimento para o País. O economista Yoshiaki Nakano criticou os juros elevados, como já havia feito, na véspera, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. Segundo Nakano, "há muito espaço" para a queda dos juros. "O Banco Central (BC) fixa a taxa de juros que remunera a sobra de caixa dos bancos que é a mesma que remunera títulos e pós fixados. Isso não tem lógica. Não tem sentido. É esdrúxulo. Nossa taxa é a mais heterodoxa do mundo e o BC do Brasil é o mais heterodoxo do mundo.".

"Não consigo entender que depois de três meses de quedas nos índices gerais de preços, o governo ainda tenha dúvida sobre a redução da taxa de juros", disse João Sabóia, do Instituto de Economia da UFRJ. Na prática, a taxa real de juros vem subindo por causa da inflação em queda. Ele criticou o fato de o BC mirar apenas a meta e não dentro da faixa permitida para o ano. "Uma meta rigorosa demais tem um custo social muito grande", observou.

As avaliações foram feitas ao longo do dia, antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Na véspera, Bresser havia qualificado os juros como "um escândalo e um assalto ao patrimônio público e ao povo brasileiro". Alertou para a necessidade de se mudar "de situação de doença para níveis decentes" os juros no País.

O economista Fernando Cardim, da UFRJ, não descartou o risco de a taxa de 19,75% virar um "patamar", caso surja algum fato que agrave a crise política. Nos três dias de seminário, duas das teses defendidas foram a redução da dependência externa de recursos, acompanhada de queda nos juros, e desenvolvimento com distribuição de renda.

Na avaliação do economista da Unicamp, Mariano Laplane, a política econômica limita o crescimento. "Não podemos esperar muito do regime atual econômico, que representa uma armadilha de baixo crescimento", comentou. O mesmo tipo de crítica foi feita pelo economista mexicano Arturo Guillén, da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM) do México: "Bem ou mal, a economia mundial está crescendo, mas o Brasil e o México não crescem (tanto)", afirmou.