Título: Empresários se queixam da `teimosia¿ do Banco Central
Autor: Marcelo Rehder e Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

Empresários da indústria e do comércio criticaram a decisão do Copom de manter a Selic em 19,75% ao ano. Eles argumentam que a medida representa um aumento da taxa de juros reais e compromete ainda mais a possibilidade de reverter o pessimismo e as expectativas de produção e vendas para os próximos meses. Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a manutenção da Selic significa um endurecimento da política monetária em um momento em que se justificaria um abrandamento do rigor monetário. "Ainda que a prática conservadora do BC nos últimos anos sugerisse uma postura cautelosa por parte da autoridade monetária, a decisão de manter os juros causou estranheza."

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que "é intolerável a teimosia do Copom de manter a escalada dos juros, elevando a extremos a frustração e desrespeitando a inteligência dos brasileiros com explicações que não convencem". Para Skaf, o órgão, mais uma vez, perdeu excelente oportunidade de estimular o nível de atividades, num momento em que o governo enfrenta a sua mais grave crise política. Ele lembra que a manutenção da Selic aumenta ainda mais a taxa real de juros. "Como obstinado campeão dos juros altos, o Brasil, já recordista mundial, consegue ultrapassar sua fantástica marca anterior".

O diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, disse que fica cada vez mais distante a possibilidade de reverter o pessimismo do comércio, que cedo ou tarde vai ter impacto sobre a indústria. "Não é possível que as autoridades monetárias condenem o Brasil a um crescimento medíocre, possivelmente ainda menor que a já deplorável previsão de 3% em 2005, conforme as projeções do mercado", afirmou Tabacof.

"É uma provocação", reagiu Júlio César Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo ele, a sociedade não agüenta mais os efeitos do controle da inflação com uma taxa de juros de 20% ao ano. "Gostaríamos de ver uma técnica mais criativa e apurada que permitisse um bom controle inflacionário sem transformar o País num mar de agiotas."

Segundo o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, "está mais do que na hora de começar a reduzir os juros". Ele argumenta que, se as decisões do Copom se pautam pelo critério técnico, existem argumentos de sobra que justificariam uma redução, mesmo que porcentualmente pequena. "Os indicadores de inflação estão convergindo para a meta e a inflação está desacelerando. Além disso, não há excesso de demanda." Mas, se a decisão foi pautada pela crise política, ele acredita que os juros não irão cair neste ano.

Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Abram Szajman, a manutenção da Selic é, no momento atual, um mecanismo inócuo para agir sobre as variáveis que preocupam o BC. "Não será por meio de juro alto que a política econômica terá como controlar fatores que estão fora de seu alcance, como a crise política e a alta do petróleo."

Na análise de Solimeo, da ACSP, o impacto maior da manutenção dos juros é na economia real. "O comércio vai adiar as encomendas de fim de ano por mais um mês."

O supervisor-geral das Lojas Cem, Valdemir Colleone, lamenta. Na sua opinião, uma reduçãol injetaria ânimo no consumo que anda estagnado.