Título: Dilma vê pesquisa como 'bastante interessante'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A4

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem, em São Paulo, que diante da crise política que o governo enfrenta, o resultado da última pesquisa Ibope - na qual a avaliação do presidente Lula caiu de 54% para 45% -, "é bastante interessante". E acrescentou: "Até porque vocês (jornalistas) têm de convir que o governo está submetido a uma pressão de mídia diária, 24 horas por dia, e nos últimos dois meses, de forma bastante intensa. Acho até que o nosso desempenho tem sido muito bom."

Apesar do comentário, a titular da Casa Civil assegurou que o governo se preocupa. "(O governo) vai e gostaria de esclarecer que nós também não concordamos com todas as coisas que aconteceram", disse. "Temos o compromisso, nós mais do que qualquer outra instituição porque somos representantes do Executivo, de nos comprometer a apurar todas essas questões em todas as dimensões e conseqüências", afirmou Dilma, acrescentando que todo o processo tem um tempo de resolução e maturação. Ao participar à noite de um evento com empresários na capital paulista, a chefe da Casa Civil ressaltou ainda que ela e o presidente Lula defendem "a apuração implacável" das denúncias, mas o País não pode permitir "ataque de baixa estima".

PREOCUPANTE

Integrante do grupo de 22 deputados da esquerda do PT, Chico Alencar (RJ) considerou que a pesquisa do Ibope é mais um indicativo de que o PT e o governo precisam dar respostas à altura da gravidade da crise. "Apesar de todo o carisma do Lula, no qual ele apostou bastante ultimamente, a curva é descendente e preocupante. O conteúdo das denúncias e a péssima reação do PT e do governo provocaram isso", disse o parlamentar, que classifica de "uma grande chacoalhada" a pesquisa. "(Os números) são reflexo da forma de o PT, o governo e o próprio Lula lidarem com a crise. O PT não pode ficar nesta inércia, nesta paralisia."

Líder interino no PT na Câmara, Fernando Ferro (PE), aproveitou os números para pedir uma resposta. "O presidente tem e vai tomar a iniciativa de responder à situação. Hoje, há dúvida por causa da falta de resposta mais decisiva. Cria um clima de desconfiança", reclamou. Para o deputado, a pesquisa Ibope mostra que a divulgação da crise chegou à população. "Mas o presidente pode superar, porque ainda tem credibilidade de boa parte."

Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Lula pode reverter o declínio de popularidade se adotar uma atitude semelhante à do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que deu entrevista coletiva para explicar as denúncias de que foi alvo.

"Falta o Lula fazer isso. Tenho recomendado a ele que dê coletivas com mais freqüência e, inclusive, venha ao Congresso para dialogar com os parlamentares", afirmou Suplicy. "O presidente Lula terá condições de superar a situação presente à medida que tiver uma atitude positiva de enfrentar a crise da maneira mais sincera possível para contribuir e revelar inteiramente a verdade, reconhecendo os erros eventualmente cometidos no seu governo."