Título: Crise atinge a imagem de Lula e Serra sairia na frente já no 1.º turno
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A4

Pela primeira vez, desde as eleições de 2002, uma pesquisa registrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perderia a eleição para a Presidência da República no primeiro e no segundo turnos. Pesquisa do Ibope divulgada ontem pela TV Globo apontou que José Serra (PSDB), seu adversário de 2002, ganharia no primeiro turno por 30% a 29% e no segundo, folgadamente, por 44% a 35%. O Ibope foi a campo entre 18 e 22 de agosto, ouvindo 2.002 eleitores brasileiros em 143 municípios. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais. Os resultados evidenciam que os escândalos de corrupção atingiram o prestígio do presidente Lula em todos os redutos onde ele ancorava sua popularidade e devastaram-na na Região Sul, entre o eleitorado feminino, nas faixas de baixa e alta escolaridade e entre eleitores com mais de 29 anos.

A avaliação do presidente literalmente despencou. Seu índice de desaprovação é maior que o índice de aprovação - 47% a 45%; na Região Sul os números são mais amplos: 55% desaprovam o governo Lula e só 37% o aprovam. Os 45% de Lula, na soma total, representam uma queda de 10 pontos em relação à pesquisa de 5 de junho, quando a soma dos que confiavam era de 55% contra 38% que não confiavam.

Mas não foi só. Também a confiabilidade do governo apareceu destroçada: folgada maioria dos eleitores (52%) declarara não confiar no presidente Lula e apenas 43% disseram confiar - uma queda de 13 pontos, em relação a 5 de junho, quando a conta era favorável ao presidente por 56% a 38%

A classe C, até pouco tempo um tradicional reduto apoiador de Lula, forneceu o índice mais elástico: 54% não confiam e só 41% confiam; as cidades com mais de 100 mil habitantes também perderam a confiança: nelas a desaprovação vence por 53% a 42%.

Na avaliação geral do governo, 5% dos eleitores brasileiros a consideram "ótimo"; ele é "bom" para 24%, "regular" para 38%, outros 10% o apontam como "ruim" e 21% opinam que é "péssimo", o que dá uma avaliação positiva de apenas 29%. Uma imensa maioria de 81% conhece os escândalos ; a culpa é do PT para 29%, dos deputados para 28%, de Lula para 22% e dos partidos aliados para 19%.

CENÁRIOS

No primeiro cenário proposto pela pesquisa do Ibope, Serra vence a simulação de primeiro turno com 30%, deixando Lula em segundo, com 29% (em 2002, Lula teve 46,44% contra 23,2% de Serra. Anthony Garotinho (PMDB) tem 10%, a senadora Heloísa Helena (PSOL), 4%, e o prefeito César Maia (PFL) fica com 3%. Os que votariam branco ou nulo seriam 18% e 6% estão indecisos.

Em outro cenário, em que Serra é substituído pelo governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, como candidato tucano, o presidente conseguiu aparecer na frente, com 32%, ficando Garotinho em segundo, com 17%, Alckmin em terceiro, com 11%, seguindo-se Heloísa Helena e César Maia, ambos com 5%. Os brancos e nulos subiriam para 22% e os indecisos, para 8%.

Na simulação de primeiro turno Lula vence entre os homens e perde entre as mulheres; ganha apenas na faixa de idade entre 16 e 29 anos, perdendo em todas as demais. Ganha entre os que têm ensino médio e perde em todas as outras faixas de escolaridade. Consegue ganhar de Serra no Nordeste e no Sudeste, e empatar na Região Norte/Centro-Oeste; mas perde por larga margem no Sul.

O dado mais curioso na pesquisa é que Lula perde no interior, principal base de sustentação de sua popularidade na Presidência da República; ele ainda ganha, no entanto, no cômputo geral das capitais e periferias, a despeito da desaprovação crescente e da perda de confiança do governo nelas.

Num hipotético segundo turno, Lula ainda consegue vencer Garotinho (40% a 31%) e Alckmin (42% a 31%), mas é atropelado por Serra - 44% a 35% (em 2002, Lula venceu por 61,3% a 38,7%). Serra vence em todas os segmentos do eleitorado, menos as capitais e periferias.

Entre as mulheres, Serra vence por 12 pontos porcentuais; na faixa entre 30 e 39 anos, por 14 pontos. Na Região Sul, acontece um massacre eleitoral: 51% a 25% para Serra; na faixa de 5 a 10 salários mínimos, Serra também vence com sobras, por 48% a 32%.