Título: Presidente diz que reduzir juros 'não é questão apenas de vontade'
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A5

CUIABÁ - Diante da repercussão positiva da entrevista em que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, respondeu a acusações e afirmou que a política econômica não vai mudar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou de discurso. Num pronunciamento de improviso, Lula deixou de lado ontem os elogios à sua honra pessoal e as promessas de punição aos envolvidos com corrupção. Em vez disso, defendeu também os rumos da economia e ainda criticou os senadores de oposição que aprovaram o aumento do salário mínimo para R$ 384,29 - valor revisto depois pela Câmara. Durante inauguração de uma linha de transmissão de energia elétrica numa subestação a 18 quilômetros do centro de Cuiabá, Lula falou da política de juros e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

"Há quem diga: 'Presidente, por que o senhor não baixa os juros logo a 4%, 5%?' As pessoas pensam que o Palocci não gostaria de fazer isso, que ele é diferente de qualquer um de nós", disse Lula. "Ele gostaria, eu gostaria, o Meirelles gostaria. A gente não baixa porque não é questão apenas de vontade." Sob aplausos da platéia de cerca de 200 operários e empresários, Lula reclamou do Senado pelo aumento do salário mínimo. "Quem aprovou sabia que nenhuma prefeitura ou a Previdência poderia pagar. Quem aprovou tinha tido tempo de aprovar porque governa o Brasil há 500 anos. Para mostrar que não estou pensando nas próximas eleições, mas nas próximas gerações, e graças a Deus a Câmara mudou, eu vetaria sem nenhuma preocupação."

Lula afirmou ainda que o País deve aproveitar a crise política para aperfeiçoar as instituições e melhorar as condições sociais. "Tem uma crise, tem. Vamos tirar proveito para o Brasil sair dela muito mais fortalecido e democrático e, quem sabe, para que o povo tenha mais riqueza e distribuição de renda."

Ao adotar o estilo Palocci, que no domingo respondeu a acusação de receber propina quando era prefeito de Ribeirão Preto de forma pouco emocional, Lula não falou desta vez da mãe analfabeta, não chorou nem reivindicou ser dono da ética. Pediu respeito às instituições. "É preciso ter clareza que a construção deste país só poderá ser feita se as instituições estiverem funcionando e forem respeitadas", disse.

Reclamou dos que pedem pressa nas investigações. "Muitas vezes, quando se faz apenas carnaval, a conclusão verdadeira demora a aparecer e, às vezes, nem aparece", afirmou. "Por mais grave que seja a crise política, o povo brasileiro saberá debelá-la", completou.

"O povo vive pela primeira vez um momento de crescimento sustentável. Não jogarei fora essa oportunidade por nada neste mundo", ressaltou, numa referência à manutenção da política econômica.