Título: Governador reclama, o presidente reage
Autor: Isabel Sobral e Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A6

CUIABÁ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi obrigado a passar, ontem, por uma situação desagradável, durante a solenidade de inauguração de uma linha de transmissão de energia em Cuiabá. Foi quando o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), afirmou em discurso, ao lado dele, que não vê ações "concretas, peremptórias e firmes" do governo federal no Estado. Maggi reclamou contra o Ibama, depois citou o Ministério Público e até o Congresso, que segundo ele faz leis que o Estado não pode cumprir. Como exemplo, citou a obrigatoriedade do transporte coletivo de crianças em cidades do interior. "A crise que o Congresso vive pode ser o início de uma grande mudança", afirmou. "Precisamos rediscutir o pacto federativo. Quem comanda isso?", disse o governador ao criticar a atuação de órgãos federais.

Grande produtor de soja, Blairo Maggi apenas ilustrou a questão do transporte de crianças como pretexto. O alvo dele, segundo assessores, foram os órgãos ambientais, especialmente o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, comandado pela petista Marina Silva.

O governador é acusado por entidades ambientais e por defensores dos índios, do País e do exterior, de incentivar a destruição da floresta e reduzir as áreas onde vivem os índios.

Assim que o governador de Mato Grosso encerrou seu discurso, o presidente Lula foi ao contra-ataque, afirmando que "às vezes é muito fácil falar de reformas, mas é difícil executá-las".

Voltando-se para o governador - que é o maior representante do agronegócio na economia mato-grossense, Lula observou que o governo repassou só neste ano R$ 108 milhões para pequenos agricultores de Mato Grosso.

"Os pequenos agricultores estão vivendo melhor", replicou o presidente. "Se tem uma coisa de que tenho consciência é do direito de reivindicar das pessoas", completou. Segundo ele, "o governador pode reclamar, o prefeito pode reclamar, mas o presidente não tem para quem reclamar, pedir ou jogar a culpa dos problemas".

O presidente afirmou ainda que sempre defendeu o pacto federativo, mas que ele não avançou porque o bairrismo de dois ou três governadores sempre prevaleceu sobre os interesses nacionais em reformas importantes, como a da Previdência e a tributária. Lula ressaltou que reformas no Brasil sempre são "difíceis e complicadas" e que as pessoas "a priori já são contra qualquer reforma". "É assim que funciona a cabeça do ser humano."