Título: Lula: política econômica é do governo, não de Palocci
Autor: Isabel Sobral e Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Diante de uma platéia de empresários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa enfática da política econômica e afirmou com todas as letras que ela não muda. "Não será um evento eleitoreiro, imediatista, que vai fazer mudar a política econômica", afirmou, durante a reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), conforme relato de um participante. "Fiquem tranqüilos, vamos persistir." Lula também pediu apoio dos empresários para ajudar a coibir o que classificou de "irresponsabilidades" no processo de apuração das denúncias de corrupção. Ele citou dois exemplos do que considera exageros no processo. O primeiro foi o fato de o doleiro Toninho da Barcelona obter grande repercussão ao lançar suspeitas sobre o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

O segundo episódio foi o ocorrido na última sexta-feira, quando o advogado Rogério Buratti acusou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de estar envolvido num esquema de propinas na prefeitura de Ribeirão Preto. Lula disse aos empresários que Palocci foi muito bem em sua defesa. Observou que as denúncias poderiam ter gerado uma "agitação imensa" nos mercados.

O presidente, que não estava participando da reunião do CNDI, fez questão de ir até os empresários para tranqüilizá-los. "Sei a importância da estabilidade", afirmou. Ele comentou que está pagando um "preço elevado" para manter a política econômica.

"Estou enfrentando críticas de parcelas do meu partido e também dos sindicatos", afirmou, acrescentando que, se dependesse desses companheiros, a taxa de juros reais estaria em 8%. Na sua avaliação, isso demonstra a independência do Banco Central. "Estou convencido que estamos no caminho correto."

Antes da chegada do presidente, a crise não havia sido discutida na reunião. Foi de Lula a iniciativa de levantar o tema.

SEM CONCESSÕES

"Lula passou a postura de que essa política econômica não é do ministro Palocci, mas do governo", contou o presidente da siderúrgica Gerdau, Jorge Gerdau Johanpetter. "Ele disse que com Palocci ou sem Palocci a política será mantida."

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, contou que o presidente enfatizou que não haverá concessões por causa da crise política. "Acho que o presidente quis deixar claro que as linhas fundamentais da política econômica são do governo e não de uma pessoa só e aproveitou a presença das lideranças empresariais para passar essa posição firme, até inflexível, do governo."

Palocci fez uma curta apresentação aos empresários e ressaltou que, no primeiro semestre deste ano, as 500 maiores empresas do Brasil tiveram o maior lucro dos últimos 23 anos, o que revela que as empresas continuam investindo. O ministro aparentou estar tranqüilo, fazendo pequenos comentários quando os assuntos passavam por desoneração fiscal e condução de projetos incluídos na agenda mínima.